segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Qual a diferença entre conhecimento e sabedoria?

Conhecimento é informação sobre coisas, fatos, processos, incluindo saberes sobre habilidades técnicas. O conhecimento pode ser vulgar, humanístico ou científico. O primeiro é aquele que a pessoa adquire por sua vivência, muitas vezes sem justificativa, mas reconhecidamente útil e verdadeiro para uma dada comunidade humana em algum tempo, local e estrato social. Conhecimento humanístico e científico é informação, devidamente categorizada, consolidada, correlacionada, contextualizada, justificada, embasada, explicitada, organizada e memorizada de forma a poder ser expressa com lógica, coerência, coesão, clareza, concisão e estilo. Sabedoria, por outro lado é uma arte e uma virtude, que consiste fazer bom uso do conhecimento, com proveito, de forma a promover a justiça e o bem estar para o maior número de seres. Principalmente é a capacidade de escolha, numa decisão, de forma a atender a esses requisitos. Devemos distinguir inteligência de conhecimento. Conhecimento é acúmulo de informação, certamente correlacionada e sistematizada. Inteligência é habilidade em aplicar o conhecimento na solução de problemas, práticos ou teóricos. A inteligência é o “hardware” e o conhecimento é o “software”. A pessoa pode ser inteligente e ignorante ao mesmo tempo.
Erudito é uma pessoa inteligente e de muito conhecimento, sendo, assim, capaz de argumentar, articular o pensamento, persuadir, expor uma idéia, desenvolver um raciocínio, sempre com grande embasamento. Mas o erudito pode não ser sábio. Sábio é aquele que usa o conhecimento que tem (que pode ser muito ou pouco) e a inteligência, de modo proveitoso e adequado, isto é, de modo a acarretar a maximização da felicidade do maior número de pessoas, de modo a, em tudo, ser justo, equitativo e respeitoso do direito alheio (inclusive dos seres irracionais e inanimados) e pricipalmente, agir sempre colocando a bondade como primeira prioridade. Sim, porque ser bom é mais valioso do que ser justo e honesto, pois o justo e o honesto podem ser frios e calculistas mas o bom é sempre justo e honesto, e, portanto, sábio. Se o sábio for também erudito então termos a pessoa humana com as melhores qualidades que se pode encontrar pois ela será também modesta e virtuosa em todos os outros aspectos. É o ideal do filósofo da grécia antiga ou do “santo” dos primeiros cristãos. Isso não significa que seja casmurro. Certamente o verdadeiro sábio é alegre e jovial. Outro conceito envolvido é o de intelectual. Considero que intelectual não seja apenas uma pessoa que domine vastos conhecimentos. Um médico, um engenheiro, um empresário podem dominar vastos conhecimentos sem serem intelectuais. O intelectual é aquele que tem conhecimentos mais teóricos e consegue correlacionar o saber de sua área específica com as demais áreas do conhecimento humano. O passo seguinte é ser um erudito, isto é, que domina seu campo de saber em profundidade e abrangência superlativas. Já o filósofo se caracteriza principalmente por ser uma pessoa que reflete e questiona. Normalmente ele deve ter conhecimento de filosofia e história da filosofia, e, portanto, ser um intelectual, mas não necessariamente. Alquem pode ser um filósofo sem que seja intelectual e nem todo intelectual será um filósofo. Uma característica do filósofo é seu amor e sua busca pelo saber e, mais que o saber, pela sabedoria. Erudição e sabedoria são, certamente, conceitos bem distintos, como já está mais que provado. Existem dois conceitos de filósofo. Um amplo e um restrito. Segundo o amplo, filósofo é todo aquele que se debruça sobre a realidade para refletir, questionando e buscando respostas (mesmo que não as ache). Assim, não se requer nenhum tipo formal de estudo para ser-se filósofo, na concepção ampla. Na concepção restrita, um filósofo é um profissional, com diploma universitário, mestrado e doutorado na área, detentor de um amplo e profundo conhecimento de tudo o que trata a filosofia e do que disseram os grandes filósofos, aliado à habilidade de, ele próprio, fazer uso das ferramentas de raciocínio para construir sua visão da realidade, com a devida competência retórica e pedagógica para expô-la didatica e convincentemente ao público. Considero-me um filósofo no sentido amplo. A erudição não atrapalha o pensamento de modo algum. Pelo contrário, desde que se entenda erudição de um modo que não seja estéril. Embeber-se de conhecimento é um fator que, para quem tenha suficiente talento, estimula a criatividade e a inovação. Não é verdade que a erudição crie amarras. Conhecer as múltiplas facetas da realidade abre os horizontes e espanca os preconceitos. Dá uma visão abrangente da multiplicidade das possibilidades a respeito de tudo e impede o fechamento em estruturas amarradas e inflexíveis. Por isso acho importantíssimo o ensino da filosofia no nível médio, para abrir a mente da juventude e criar um espírito de crítica e reflexão sobre o mundo, sem adesão incondicional aos modismos de ocasião e nem aferroamento a tradições irremovíveis. É falsa a noção de que o erudito ou o intelectual não seja uma pessoa de mente arejada e aberta a novidades ou ao inusitado. Mas certamente é uma pessoa ponderada que cotejará o novo com o que já existe e filtrará o que é válido do que seja mera vaidade. Assim estará agindo com sabedoria. Muitos filósofos foram polímatas, destacando-se Aristóteles. Mas isto não é necessário para ser filósofo. Polímata é o que entende de muitos assuntos (artes, ciências, ofícios, negócios etc.) em profundidade e não apenas razoavelmente. Isto todo filósofo tem que entender, pois Filosofia abarca a totalidade dos conhecimentos e fazeres humanos, discutindo-os e sistematizando-os. Um filósofo, além de conhecer Filosofia e sua história, tem que ter bons conhecimentos das ciências naturais (no tempo de Newton conhecidas como “Filosofia Natural”), especialmente Física e Biologia, das ciências sociais (Sociologia, História…), das artes, da Política e de todas as atividades humanas, além de saber escrever muito bem e dominar alguns idiomas, especialmente grego e alemão, e, é claro, saber Matemática. Sem esses conhecimentos o filósofo não consegue ter uma apreensão completa da realidade em todos os seus matizes, a respeito do que é seu mister debruçar-se para refletir e formular questões, para as quais deve propor respostas. Estou falando do filósofo profissional. Mas não precisa ser um matemático, nem físico, biólogo, historiador, músico, poeta, pintor, médico, engenheiro, político ou o que seja a respeito de que venha a filosofar. Mas tem que filosofar e não apenas entender de filosofia, como parece que os cursos de Filosofia no Brasil pretendem passar a seus alunos. São conceitos distintos que podem ou não coexistir na mesma pessoa. E, é claro, filosofia não é ciência e seus métodos são distintos. O polimatismo, por outro lado, não se restringe apenas a conhecimentos, mas também a habilidades, como as artísticas, inventivas etc. Uma distinção que achei interessante é entre polímatas ou filósofos ativos e passivos. Um cientista não é digno deste nome se não for ativo, ou seja, se não produzir novos conhecimentos. Em minhas aulas de Física para engenheiros eu sempre dizia que o verdadeiro engenheiro é o inventor, e não aquele que apenas faz o que já está estabelecido. Em todas as atividades, só se trabalha de forma gratificante quando se procura mudar o mundo para melhor, naquilo que se faz.

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