quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ernesto, como vc refutaria esse festival de falácias: formspring.me/catolicoresp/q/2007390070

1. É claro que tudo que tem causa precisa ocorrer no tempo. Mas isto não implica em que o que não tenha causa ocorra necessariamente fora do tempo. "Se causa então tempo" não equivale a "se não causa então não tempo" mas sim a "se não tempo, então não causa". Isto é lógica básica.
2. Certamente, se o Universo for eterno ele não tem causa, mas ele também pode ter tido um começo sem causa, uma vez que causa não é uma necessidade para a ocorrência de eventos mas sim uma particularidade de alguns eventos, denominados efeitos.
3. A suposição de que todo evento seja um efeito é uma conclusão induzida que advém da observação das ocorrências cotidianas que se acham na escala de tempos e dimensões acessíveis à observação humana, em que normalmente é assim. No domínio subatômico assim não é, e como apenas um contra-exemplo invalida uma conclusão por indução, não se pode dizer que causa seja uma necessidade.
4. Nem todo evento é um efeito e existem miríades deles ocorrendo a todo momento, como a emissão de fótons por sistemas excitados e o decaimento radioativo. A excitação é uma condição e não uma causa.
5. Se o começo do Universo teve uma causa, o agente provocador dessa causa tem que ser extrínseco ao Universo e, assim, o Universo não seria o conjunto de tudo o que existe, existiu e existirá, pois haveria algo que existiu e não pertencia ao Universo.
6. Alternativamente, se se considerar o Universo como o conjunto de tudo, então o Universo dito natural é uma parte dele, sendo ele todo, incluindo o agente não natural que produziu o Universo natural, sempre existente e, portanto, incausado.
7. Os dados observacionais indicam que o atual Universo teve um começo. Mas pode ser que esse começo tenha sido oriundo de um Universo anterior que se colapsara. Todavia considero que antes do atual Universo natural não havia coisa alguma: nem conteúdo, nem tempo, nem espaço vazio.
8. O fato de que os valores das constantes físicas serem exatamente os que se ajustam para que possam existir átomos, estrelas, planetas, galáxias, moléculas e a vida não é absolutamente, prova nenhuma de que isto tenha sido planejado por alguma inteligência. Trata-se de mera coincidência que possibilitou isso tudo. Se não fosse assim, simplesmente não haveria nada disso, ou nem haveria Universo.
9. Nada impede que o Universo tenha surgido sem provir de conteúdo anterior nenhum (aliás, mesmo considerando que tenha sido criado, é assim que se deu), nem tampouco por ação de uma causa, inteligente ou não. Mais, ainda: sem propósito nenhum. Que razão obrigaria a isto?
10. Mesmo que tenha havido alguma causa para o surgimento do Universo, nada indica que o agente provocador desta causa teria que ser uma entidade pessoal, isto é, provida de personalidade: sensibilidade, inteligência e vontade. Poderia perfeitamente ser um agente completamente impessoal. Porque não?
11. As noções de bem e de mal, de certo e de errado, que norteiam o comportamento moral, são inteiramente humanas e se reportam aos efeitos das ações sobre as pessoas, não só por parte de outras pessoas, mas também por parte da natureza. Não há nenhuma necessidade de um referencial sobrenatural para balizar a conduta moral.
12. O Deus que as religiões judaica, cristã e muçulmana consideram que existe não exibe os predicados de ser inteligente, onipotente, onisciente, justo e benevolente ao mesmo tempo, como comprovam a existência do mal e as inúmeras imperfeições do Universo (doenças, por exemplo). Nem sequer ouve e atende às preces, mesmo a dos justos, puros e santos.
13. Concluindo, não se pode provar que não existe Deus e nem que tal tipo de entidade tenha criado o Universo. Todavia não existe razão nenhuma para que isto exista e que o Universo tenha sido criado e não surgido ao acaso. Se não é necessário tal consideração, porque assumí-la? É muito mais simples considerar sua inexistência, já que não há evidência nenhuma a favor dela.
14. Finalizando, se existir algo que se possa chamar de Deus, por ser uma entidade não natural e capaz de agir sobre a natureza, todas as evidências indicam que tal entidade absolutamente não seria justa nem bondosa.

Ask me anything (pergunte-me o que quiser)

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails