terça-feira, 13 de setembro de 2011

Um bom argumento para a impossibilidade de um deus criador seria das duas uma: a matéria estava fora de deus ou era o próprio deus. Se a matéria estava fora de deus, não teve necessidade de criá-la, encerrando em si próprio já é um ato de exteriorização?

Não acho que só existam essas possibilidades. O conteúdo do Universo (que não é só matéria, mas inclui também campo e radiação), ou sempre existiu por conta própria, ou surgiu de nada, espontaneamente em dado momento, também por conta própria, ou foi criado, também de nada, por um agente extrínseco ao Universo, já existente, ou emanou desse agente em um dado momento, ou, ainda, sempre existiu como parte de uma entidade inteligente, volitiva e poderosa, capaz de promover alterações nele em razão de seus projetos. Nos dois primeiros casos não há Deus. Nos últimos há Deus, no terceiro transcendente, no quarto e quinto, imanente. A transcedência pode ser deísta ou teísta. Na primeira o criador abandonou a criatura à própria sorte, na segunda permanece controlando-a, que é o caso do Deus das religiões abrahãmicas. A imanência pode ser panteísta, pandeísta ou panenteísta. O pandeísmo e o panteísmo consideram Deus como o próprio Universo, sempre existente, no primeiro deixando-o agir por conta própria e no segundo tendo uma inteligência e uma vontade que permanecem atuando sobre ele. O panenteísmo é uma imanência transcendente, isto é, Deus seria pré-existente ao Universo e, num dado momento, resolveu transformar-se nele, mantendo uma espécie de consciência exterior a ele. É o caso do Brahman dos indianos. Em qualquer das opções que consideram a existência de Deus, ele é caracterizado por ser uma entidade, extrínseca ou intrínseca ao Universo, com capacidade de agir voluntariamente. O Deus de Espinosa não é, simplesmente, o Universo afeto apenas às leis naturais, mas algo que resolve o que vai acontecer, que planeja e executa. No ateísmo, quer se considere que o Universo seja eterno para o passado ou tenha surgido em dado momento, não existe figura nenhuma que resolva nada. Tudo acontece ao acaso. sem projeto nem motivo, nem finalidade. Esta, para mim, é a hipótese nula, isto é, a que deve ser aceita se nada diferente for verificado que ocorra. Considerar que Deus exista requer, pois, verificar se há, de fato, um plano, uma razão e um propósito para que tudo tenha se dado e se dê como acontece. Até o momento não vi argumento nenhum que confirme essas hipóteses.

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