Associar beleza a burrice é um preconceito inadmissível. Não conheço estudo de correlação entre essas características, mas acho que, se for feito, deve indicar o contrário, uma vez que, em geral, há um fator genético global que correlaciona os vários tipos de inteligência, e a beleza, como a agilidade, a força, a inteligência, são recursos que aumentam as chances de sobrevivência e de encontrar parceiros melhores para procriar, um fator vantajoso na seleção natural biológica. Fazer uso proveitoso dos recursos de que se dispõe para obter sucesso é sinal de inteligência, certamente. A questão que se pode colocar é de ordem ética, pois a ética visa preservar o bem geral em confronto com o bem individual. No todo, o comportamento ético é benéfico ao grupo, para sua própria sobrevivência. A própria evolução pela seleção natural privilegia o grupo em relação ao indivíduo. Só que temos duas pulsões instintivas fortes: a egoísta, que busca a sobrevivência individual e a altruísta, que busca a sobrevivência do grupo. A civilização foi, justamente, o artifício encontrado pela espécie humana para conciliar os dois aspectos: garantir o bem de todos e também o de cada um. Ao longo da história, idas e vindas de certas características foram saudadas como boas ou ruins. Atualmente acredito que a tendência para a liberalização dos costumes será um fator positivo para diminuir o poder da beleza, uma vez que, cada vez menos as pessoas se valem das outras para sua sobrevivência, de modo que menos gente se dispõe a sustentar os outros só para desfrutar de sua beleza. Independentemente da beleza, cada qual tem que prover o seu próprio sustento, individualmente. Mulheres bonitas que arranjam maridos ricos para não ter que trabalhar, para mim, são uma espécie de prostitutas, ou melhor, pior do que elas. Maridos que sustentam mulheres bonitas só para se gabar do feito, para mim, são uns bocós.
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