domingo, 2 de outubro de 2011

Se enxergamos o indíviduo e a consciência como um fator puramente material, seria então correto dizer que não existe livre-arbitrío, no sentido que podemos induzir qualquer sentimento ou pensamento conhecendo a mecânica agregada ao processo?

Não, de forma nenhuma. Primeiro que a consciência, mesmo sendo natural, não é material. Se assim o fosse poderíamos extrair cirurgicamente a memória, o temperamento ou o caráter de uma pessoa e passá-lo para outra, num transplante. Isso não é possível e não é porque a técnica cirúrgica ainda não está suficientemente desenvolvida. É que isso não está localizado. Nem tudo que é natural é material. Além da matéria, a natureza é feita de campos e radiação, seus constituintes substanciais, estruturas e ocorrências, seus constituintes formais e espaço e tempo, que acolhem isso tudo e as relações entre essas coisas e suas dinâmicas, isto é, modo de evolução. Vê-se logo que matéria é só um detalhe da natureza. A mente é uma ocorrência superveniente ao funcionamento dos sistemas nervoso, endócrino e, de resto, de todo o organismo, mas, principalmente do cérebro e seus anexos. Como um sistema natural ele tem um comportamento descrito pelas leis físicas, dentre elas o princípio da incerteza, que está diretamente relacionado com o indeterminismo quântico. Isto significa que, dadas as mesmas condições, causas idênticas podem produzir efeitos distintos, além de haver eventos que não são efeitos de causa nenhuma. É esse comportamento, em nível sub-atômico, que, elevado aos níveis superiores de complexidade, confere a possibilidade de escolha decisória para a mente, consciente ou inconscientemente. O mecanicismo laplaciano não acontece na natureza e, muito menos, na mente, que é o sistema mais complexo existente na natureza.

Filosofia, Ciência, Arte, Cultura, Educação

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