domingo, 19 de maio de 2013

Professor, o que o senhor acha das cotas raciais? Ouvi pessoas afirmando serem contras porque não há diferença de capacidade entre os negros e brancos. O que tem a dizer sobre o assunto?‎

Não há mesmo diferença na média da capacidade intelectual de negros, brancos, vermelhos, amarelos ou que raça sejam. Como não há na de mulheres e homens. Há mais diferença individual entre os integrantes de um mesmo grupo desses. Isso não significa, contudo, que todos tenham as mesmas condições para entrar e fazer um curso superior, pois tal proeza depende, também, da preparação, e as oportunidades não são as mesmas para todos, por razões históricas. A maior diferença, contudo, está no nível sócio-econômico e não na raça ou gênero. Mas, em geral, na média, negros são mais pobres do que brancos. Mesmo assim, não concordo com as cotas, por quatro motivos. Primeiro porque é injusto deixar de fora um branco mais bem preparado e deixar entrar um negro menos bem preparado. Pensa se a situação fosse invertida, o que pode ocorrer, isto é, a demanda por vagas dentro das cotas ser maior do que fora delas e um negro mais bem preparado ficar de fora, usando as cotas, enquanto um branco menos bem preparado entrar, por fora das cotas. Isso seria justo? Segundo porque permitiria o acesso de gente menos bem preparada, o que faria uma pressão para diminuir o nível de exigência de aprovação nas disciplinas (o que já vem acontecendo), permitindo a diplomação de pessoas mal preparadas para o exercício profissional, o que comprometeria e poderia, inclusive, criar graves riscos para a sociedade. A exigência de apenas 60% de domínio dos conteúdos, habilidades e competências para a aprovação em uma disciplina, para mim, já é um escândalo, de tão pequena. Já pensou se você fosse ficar nas mãos de um cirurgião que se formou em medicina sabendo, em todas as matérias, apenas 60% do que precisava saber? E se o nível de exigência diminuir, 60% significará saber menos ainda. Uma catástrofe! Terceiro porque promoveria uma discriminação para quem fizesse uso de cotas, uma vez que se poderia dizer que essa pessoa teria conseguido diploma porque fora beneficiada por cotas e não por sua capacidade. E, finalmente, porque isso viola o princípio constitucional da igualdade para todos. Cotas são uma discriminação. São a legalização de privilégios. Dizer que é para compensar o privilégio que os brancos sempre tiveram por serem mais ricos é justificar um erro por outro. O que é preciso se fazer é dar oportunidade, de fato, para que todos os brasileiros tenham uma Educação Básica e que ela seja de qualidade, de modo a permitir que, com sua inteligência, todos tenham condição de disputar qualquer vaga em igualdade de condições. Mas isso é que não vai acontecer com essa política imoral de aprovação automática nas escolas públicas.

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