De modo nenhum. Por amor se faz muito bem, mas se pode fazer muito mal também. Inclusive, até, para a própria pessoa amada. Por amor até se mata, não só quem também ame a quem amamos mas, até quem amamos, se não nos ama ou, se nos ama, não ama só a nós, mas ame também a outrem. Ora, como isso pode ser amor? Quem ama quer o bem da pessoa amada, mesmo que esse bem seja não nos amar. E mesmo que o amor seja correspondido, há muita gente que faz um grande mal a quem ama pretendendo que ela seja uma propriedade sua e controlando toda a sua vida. Quem ama quer a pessoa amada livre. Completamente livre. Em verdade, o amor pode ser fonte de muito mal. Mas isso porque não é um amor verdadeiro e sim um amor doentio, um amor possessivo, um amor egoísta. O verdadeiro amor é totalmente altruísta. Ama-se e deseja-se ser amado em retribuição. Mas não se exige isso, jamais. Nem, sendo amado, pode-se exigir exclusividade do amor. Amor não é exclusivista. Pode-se amar com toda a sinceridade, com toda a profundidade, com todo o ardor a mais de uma outra pessoa. Não estou me referindo ao amor paternal, maternal, fraternal. Estou me referindo ao amor romântico-erótico mesmo. Ele não é exclusivamente biunívoco. Pode ser plurívoco e tão verdadeiro e sincero quanto se fosse biunívoco. Isso tem que ser entendido e aceito. Posse e ciúme no amor são provas de desamor e não de amor. São manifestações de egoísmo e não de amor. É preciso muito cuidado em se amar sempre de modo altruísta, para que o fato de se amar não seja fonte de nenhum mal para ninguém.
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