domingo, 3 de julho de 2011

Eu escrevi um texto a respeito sobre sermos ateus e teístas ao mesmo tempo. Ele tá aqui. Algumas coisas precisam de revisão, admito, mas a mensagem básica ainda é compreensível. http://www.formspring.me/laerciomjr/q/184511232521301858 .

Lí o texto mencionado e comento. Certamente que para se dizer que se crê ou descrê em Deus há que se, primeiro, defini-lo. Cristãos não creem em Brahma, Shiva ou Vishnu. Mas nem o Deus abrahãmico, cultuado pelos judeus, cristãos e muçulmanos é um velho de barbas. Esta imagem é meramente pictórica e vale como forma divina apenas para os incultos (mesmo que sejam maioria). Nenhum teólogo dessas religiões considera que Deus tenha alguma forma, pois se trata de um espírito, mesmo que seja uma pessoa, isto é, que tenha personalidade, uma mente, inteligência, vontade sensibilidade. E, certamente, poder para intervir na natureza à revelia de sua leis. Isto é o que chamo de "mágico". Nesta entidade pessoal eu, absolutamente, não creio (e certamente nem no velho de barbas ou em qualquer outro deus antropomorfizado, zoomorfizado ou astromorfizado, como os do politeísmo greco-romano, germânico, escandinavo, celta, eslavo, egípcio, babilônico, persa, maia, asteca, hinduísta ou outros que tais). São todos invenções dos povos primitivos, mesmo que altamente refinadas e consubstanciadas em um corpo doutrinário tão complexo e sutil como as teologias judaica, cristã ou muçulmana.
E quanto a outra concepção de Deus? Para começar, Deus, se existir, não seria uma abstração, mas uma entidade concreta, no sentido ontológico e não físico do termo, ou seja, cuja existência não depende de mentes que a concebam. Mesmo que seja um ser não pessoal ou, até mesmo, que se confunda com o próprio Universo. Dizer que Deus não seja pessoal é dizer que ele não é um "eu", possuidor de mente e consciência e todas os atributos dessa condição.
Outra noção de Deus advém do honoteísmo hinduísta, que considera Brahman (não confundir com Brahma) como uma realidade tanto imanente quanto transcendente, mas não pessoal, o que leva ao panenteísmo, pois no panteísmo deus é apenas imanente, mas não transcendente. Brahman seria o poder transcedental de propiciar o surgimento, o crescimento e a transformação de tudo o que existe, que, então, passaria a fazer parte de Brahman (imanência). O ser humano teria uma consciência transcendental essencial, atman, que faria parte de Brahman. Nesta concepção, Brahman não seria um "eu", mas, como o conjunto unido de todas as consciências, teria uma consciência. Brahman seria o princípio de todas as leis que regem o funcionamento da natureza. O entendimento do significado de Brahman, para os hinduístas, foge da compreensão humana. Mas, certamente, trata-se de um conceito completamente diferente de Deus. Existiria isto?
No meu entendimento não há, também, como provar que sim ou que não. Apesar de ser mais plausível do que a noção abrahãmica do Deus pessoal, não vejo que seja necessário uma concepção assim para explicar a existência e a evolução do Universo e da vida. Para mim tudo pode ocorrer por conta própria, sem nenhum princípio regente e por mero acaso. Esta é a hipótese nula, isto é, a que se deve admitir como válida se nada houver em contrário. Então, para se considerar a existência de algum princípio transcendental que faz com que tudo ocorra como se dá, haveria que se achar um "diagnóstico diferencial", que indicasse que este seria, realmente, o caso. Ainda não conheço nenhum.
Para terminara quero dizer que essas concepções que defendo, absolutamente, não significam presunção, pretensão ou impaciência. Sou uma pessoa inteiramente aberta a dar o braço a torcer, tão logo seja convencido de meu engano e já fiz isto várias vezes na vida, inclusive quando deixei de ser católico e me tornei ateu. Tenho me dedicado ao estudo de todas as possibilidades, mas não tenho visto argumentos que me tirem do ateísmo. E veja que eu nutro o sincero desejo de estar equivocado. Porém não consigo admitir que a fé, no que quer que seja, possa ser usada como critério de verdade.

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