De fato, a existência da vida superior na Terra é o resultado de um ajuste fino de fatores, cuja probabilidade de ocorrência por acaso é muitíssimo baixa. Isto leva os criacionistas a afirmar que se trata de uma evidência a favor da intervenção criativa de uma entidade extrínseca ao Universo no surgimento dessa vida superior. Ou mesmo de uma entidade do próprio Universo capaz de proceder a esse ajuste. Só que aí surgiria o problema de considerar como essa entidade veio a aparecer. Isto não procede.
Probabilidade baixa não significa impossibilidade. Ganhar na loteria é muito improvável, mas há quem ganhe, mesmo assim. Mesmo que a probabilidade do acaso no ajuste fino sejam muitíssimo menor do que a de ganhar na loteria, ela não é zero, portanto não é impossível. Dizer que o tempo de existência do Universo não teria sido suficiente para que a ocorrência das coincidências fosse favorável revela desconhecimento de probabilidade e estatística. O tempo de espera a que se faz referência é a "esperança matemática". Ela significa que, em um grande número de repetições da situação (surgimento do Universo), a média de tempo para que tal coincidência se desse seria a tal esperança. Mas não diz nada sobre o tempo de espera de uma situação em particular.
Por outro lado, a ocorrência do surgimento da vida e da vida superior, por acaso, vem a ser a "hipótese nula", isto é, a que se deve levar em consideração se não existir nenhum fator que a contradiga. Isto é, se não houver nenhuma prova de que o surgimento da vida não se tenha dado por acaso, então é porque foi por acaso. Não é preciso provar que foi por acaso e sim que não foi por acaso, se este for o caso.
Para provar que o surgimento da vida não tenha sido por acaso seria preciso se dispor de evidências ou provas indiretas da interveniência de algum agente não natural na sequência de fatos que levaram ao surgimento da vida. Todos os que são responsáveis por isso ocorreram de modo inteiramente natural, mesmo que numa incrível coincidência: o afastamento do Sol de outras estrelas, a existência da Lua, a inclinação do eixo da Terra, a sua distância ao Sol, a potência e o espectro radiante do Sol, a tectônica de placas, a composição da atmosfera, o tamanho da Terra, o valor de sua gravidade, a existência de água líquida, a temperatura adequada, as moléculas presentes, enfim, uma séria de fatores, sem contar os de ordem cosmológica que permitiram a formação de átomos, estrelas e planetas. Todos esses fenômenos são puramente naturais e surgiram por conta própria em razão de injunções independentes que, por coincidência, deram-se todas no planeta Terra. Nada mostra a interveniência de nenhum poder maior do que a simples natureza em tudo isso.
Dizer que coincidências não podem existir é um preconceito. Uma crença sem fundamento nenhum. Inclusive no desenrolar da vida privada de cada pessoa, o fator preponderante são as coincidências e acasos.
Portanto, disso tudo se pode inferir que o ajuste fino é determinante para a existência de vida superior na Terra, mas é o resultado de inúmeras coincidências.
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sábado, 2 de julho de 2011
qual a sua opinião sobre o argumento teleológico do “Ajuste Fino”? Poderíamos usar o acaso para responder a essa questão, mas me sinto desconfortável seguindo esse caminho. O senhor tem alguma dica para rebater esse argumento?
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