domingo, 30 de novembro de 2014

Na ausência de uma fonte unívoca e universal para os valores morais, como é que se pode afirmar que o estupro, por exemplo, é errado? Afinal, o estuprador pode não estar subjetivamente interessado no bem comum. Por que, sendo assim, a posição subjetiva de que o estupro é errado deveria prevalecer?‎

Universal não é possível, mas humana sim. A ética e sua filha, a moral, são construtos inteiramente humanos. Mas não são subjetivos. Não existe moral particular. Também não existe moral divina, simplesmente porque Deus não existe. O que se considera como prescrição moral de Deus é uma prescrição de seres humanos que se arvoraram em porta-vozes de Deus mas que, de fato, exaram suas próprias opiniões. Todavia, enquanto a moral é relativa ao contexto social de época, lugar e estrato social, a ética é filosófica e pretende se aplicar a toda a humanidade, em todos os lugares, todas as épocas e todos os estratos sociais. Mas não é universal, pois não conhecemos o modo se ser de outros possíveis seres inteligentes em outros planetas. Então a ética busca o estabelecimento de critérios para a moral, que, por sua vez, estabelece práticas aceitáveis, proibidas ou prescritas como atendentes aos ditames da ética. Esses ditames se baseiam, principalmente, em quatro princípios: que a ação seja promotora da maximização da felicidade para o maior número de seres; que não provoque dor, sofrimento, prejuízo, tristeza ou algo de ruim, exceto se for para alcançar um bem maior; que possa ser erigida como norma geral a ser executada por todos e que seja aquilo que se deseja que se faça consigo mesmo. Nem sempre, contudo, a moral acompanha a ética. Quando lhe for contrária, é preciso contestá-la, para que seja mudada. Esse é o caso, por exemplo, da poligamia, considerada imoral mas que não fere a ética, desde que os envolvidos estejam cientes, acordes e felizes com o arranjo. No caso do estupro, sua imoralidade deve ser estabelecida com base em que provoca sofrimento, não é o que se deseja para si e não pode ser erigido com prática a ser prescrita. Isso se enquadra na mesma situação do roubo, da agressão, da desonestidade e assemelhados.

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