quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Caro Ernesto, a cultura religiosa é baseada no “toma-lá-dá-cá”: seja bom e ganhará o Jardim de Alá, o Céu etc. Seja mau e será punido pelos deuses. Qual será a dificuldade dessas pessoas em fazer o bem para se sentirem bem ou apenas por uma questão de consciência? Gostaria que comentasse. Abraços. 05/02/2016

Isso é uma questão de cosmovisão mal formada que é incutida na pessoa desde a infância, pela família, pela sociedade e pela escola. É a concepção econômica da virtude, calcada em valores de troca. Só a filosofia, e não as religiões, é capaz de conceber o bem como um valor positivo intrínseco, independente de qualquer recompensa, bem como o mal como um valor negativo intrínseco, independente de qualquer punição. Por isso é que é sumamente necessário que a escola leve os petizes a filosofar desde cedo. A examinar tudo, a cotejar tudo, a criticar tudo, e a contestar tudo que for errado, inclusive nas religiões. Para tal é preciso que se as examine todas (pelo menos as maiores), em profundidade e abrangência, sob todos os aspectos, de um ponto de vista inteiramente isento. E que se examine, também, a proposta ateísta (mesmo não sendo uma religião). E que a moral e a ética sejam discutidas abertamente em classe. A pessoa que lecionar filosofia, sociologia (incluindo economia e política) e religiões (insisto no plural) tem uma responsabilidade muito grande na formação das novas gerações e é preciso que seja aberta a todas as possibilidades (inclusive, sendo ateia, à possibilidade de deixar de o ser). Assim sendo, acho muito melhor que essa pessoa não possua religião e nem seja fanaticamente adepta de nenhuma ideologia política ou econômica, para que possa discorrer e discutir com serenidade sobre todos os pontos de vista de modo respeitoso, mesmo que apresente sua própria visão. O importante é o debate para que a criança e o jovem possam decidir por si mesmo com amplo conhecimento de causa.

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