segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Existe a experiência religiosa,descrita por William James, mas não existe experiência ateísta nenhuma. Será que algum ateu experimentou a religião, ou somente a conheceu e estudou? Falo de religião e não de igreja...

Eu mesmo sou um ateu que viveu uma profunda experiência religiosa, eu diria até, mística. Em minha adolescência e juventude, participei do "Grupo de Catolicismo" ligado à TFP do Plínio Corrêa de Oliveira. Lá cultivávamos uma religiosidade católica profunda e significativa e buscávamos a santidade com grande fervor. Eu realmente tinha uma fé imensa nas verdades cristãs e considerava Jesus Cristo como Deus e salvador da humanidade. Também tinha grande devoção a Nossa Senhora. Por que virei ateu? É que sempre fui uma pessoa muito filosófica e científica. Sempre fui o primeiro aluno da turma e sempre estudava muito mais do que os professores ensinavam, especialmente história, geografia, matemática e física, além de assuntos que não eram parte de matéria nenhuma, como filosofia, cosmologia, astronomia e... religião. Foram meus estudos e reflexões que me levaram a concluir que a fé é algo inteiramente sem cabimento e que a plausibilidade da existência de Deus é extremamente pequena. Isto me fez romper com o Grupo de Catolicismo, para que pudesse ficar em paz com minha consciência. Discordo de William James e concordo com Comte-Sponville de que há sim, uma experiência ateísta. Uma experiência muito significativa em termos éticos e humanistas. Uma espiritualidade livre de espíritos e do sobrenatural, mas plena de elevações e sentimentos de magnanimidade e nobreza. Isto pode ser vivenciado por qualquer pessoa que considere que o significado de sua existência não está em si mesmo, mas em sua inserção no comunidade humana e da natureza, sem nenhuma consideração esotérica ou irracional, mas transbordante de emoções e afetos.
O ateísmo é racional. Mas isto não impede que ateus tenham experiência de espiritualidade, mesmo sabendo que não existe Deus nenhum e nem espíritos como entidades em si mesmos. Mas espiritualidade é justamente a aplicação da mente a considerações e sentimentos elevados, ligados à prática da virtude e que são acompanhados, até, de um estado emotivo de enlevo, como se tem dentro de uma catedral gótica. Este efeito não provém da religião, mas da arquitetura. Uma música sacra, de Bach, por exemplo, provoca o mesmo efeito. O cérebro se compraz na sacralidade, mas sacralidade é uma qualidade de coisas que não têm nada a ver com o sobrenatural. Uma paisagem pode ser sacral, ou, até mesmo, a imagem de um nú feminino de sublime beleza.

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