quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Existe uma concepção de "alma" aceitável a partir de premissas naturalistas: basta encará-la não como uma "coisa", mas como informação. É como um programa que 'roda' no substrato biológico, mas que poderia, em tese, ser transmitido para algum outro.

Pode-se conceituar alma como alguma espécie de "centelha de vida", que faz com que um organismo biológico funcione autonomamente e que é passado de um para outro na concepção. Ou ao dinamismo da estrutura do sistema físico que é o organismo, que o deixa funcionando. Pode-se chamar isto de "alma", mas não tem nada a ver com "espírito", no sentido de alguma entidade etérea e sutil que estaria ligada ao organismo e lhe sobreviveria individualmente. Isto eu digo que não existe. O primeiro conceito, certamente que existe. Quanto a chamar isto de "informação", considero que também seja, mas não apenas. De certa forma a informação sobre a estrutura e a dinâmica do organismo é algo necessário, mas só ela não é capaz de manter o organismo funcionando. Veja-se o caso de um computador (lembrando-se que a analogia é pobre). Temos o hardware, que é o substrato físico, no caso do organismo, sua estrutura molecular. Temos o software, que é uma informação, mas precisa estar assignada na memória em forma de polarização dos transistores, senão não vai funcionar nada. Isto, no organismo, são os neurônios e as sinapses existente. Os dados, que também ficam na memória (trata-se de uma máquina de von Neumann), no organismo também são registrados como sinapses. Finalmente, há algo sem o qual a máquina não faz nada. Ela tem que ser suprida de energia. No organismo, isto também é necessário e se dá com o funcionamento do organismo, que inclui digestão, respiração, circulação. Por isto podemos dizer que a mente não existe fora do organismo. "Alma" seria esta complexidade toda. Isto pode ser entendido como "vida", desde que uma vida mental. A alma pode ser outro nome para a mente, já que esta não existe como apenas uma estrutura, mas uma estrutura "em funcionamento".
Em tese seria possível transferir toda a informação contida na mente de uma pessoa para a mente de outra pessoa ou para algum artefato que fosse capaz de armazenar tais informações. Atualmente não se tem tecnologia capaz dessa proeza e, assim, ao morrer, toda a informação contida na mente de uma pessoa, que não tenha sido registrada em meios externos, como um diário, por exemplo, fica perdida. De fato, a informação é algo que está impregnado no substrato, mas não é ele mesmo, de modo que pode ser extraída e transferida, em princípio, mas nem sempre na prática. E se não se transfere a informação para outro meio de registro, uma vez que o meio original seja destruído, ela fica perdida. Ela não "é" o registro, mas não consegue existir sem estar registrada de alguma forma. Todavia, a alma, mesmo não sendo um espírito, não é apenas informação, mas esta informação operante, isto é, fazendo com que o organismo funcione de acordo com suas prescrições.

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