quinta-feira, 26 de março de 2015

Mas não é exatamente o caráter dualístico que foi demonstrado com conceito de Potentia e a função de probabilidade? Concordo, Metafísica não deve ser entendida como uma ciência dogmática de afirmação dum pretenso além-mundo, mas como investigação dos princípios, leis e categorias da Realidade.‎

Metafísica é, justamente, o estudo da realidade, de sua categorização, das propriedades, das relações, e temas do tipo. A noção de potência e ato, todavia, não é uma noção correta, pois ela se refere à essência de algo, ou seja, se algo surge a partir de uma transformação, o que ele venha a ser já estaria, em potência, contido naquilo de que ele proveio. Assim, por exemplo, uma cadeira já estaria, em potência, na árvore de cuja madeira ela fora feita. Em verdade, já estaria na semente dessa árvore e, mesmo, no pólen que fez germinar essa semente e, até, em todos os vegetais anteriores a essa árvore na escala evolutiva que levou a ela, como também, nos átomos da matéria inanimada que se uniram para formar o primeiro ser vivo, bem como no campo indiferenciado do começo do Universo, a partir do qual todas as partículas materiais foram feitas. Isso é uma imensa bobeira. Claro que se pode dizer que sim, mas, então, qualquer coisa está, em potência, em tudo o que evoluiu, desde que o Universo surgiu, até chegar a ela. Só que tal consideração não conduz a nada, pois não há nenhuma intenção e nenhuma pulsão para que algo se transforme em algo. Tudo vai se transformando por acaso e não se pode saber, de antemão, no que vai dar. Por exemplo, nossa espécie, como todas as outras, muito provavelmente evoluirá para uma nova espécie trans-humana, que evoluirá para outra ainda e assim por diante, ao longo dos bilhões de anos em que a Terra ainda abrigará condições para suportar a vida. Mas não se pode saber, e não existe nem como saber, qual será essa espécie. Então, dizer que, em potência, já somos todas as espécies futuras que evoluirão a partir de nós não significa nada. Em suma, potência quer dizer que "pode", no sentido de que seja possível. E daí? Qualquer coisa pode ser uma série de outras coisas. Mas essas outras coisas não estão, de alguma forma, contidas naquilo de que elas provirão. Isso é só uma ideia. Não é algo real, na realidade objetiva do mundo. Além do mais, a noção de que cada ser possua uma essência que o caracteriza indubitavelmente não é correta. Tal noção, como a noção de necessidade de causa, adveio da observação do mundo macroscópico acessível aos sentidos humanos. O advento da possibilidade de observação de eventos em nível atômico e subatômico deitou por terra essas noções, constituindo uma das maiores consequências filosóficas da física quântica e da relatividade. Muita coisa ainda está por vir, à medida que se for entendendo o que venha a ser a matéria e a dita (impropriamente) energia escuras. Esse conhecimento, certamente, levará a novas revisões de nossas noções da realidade. O importante é manter a mente aberta para qualquer possibilidade, sempre, contudo, com a salvaguarda da dúvida. O que quero dizer agora, porém, é que não se pode afirmar que cada sistema da realidade possua uma "essência" que lhe diga, de modo inconteste, o que venha a ser. Isto abre uma nova concepção do que seja "ontologia".

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