sábado, 19 de maio de 2012

Alegar que algo é incausado ou aleatório, de certa forma não é abster-se de pensar a respeito daquilo? Quando-se diz que algo é aleatório, não se está dizendo que algo é daquela forma porque é, e sendo assim, assumindo dessa forma uma postura irracional?

Pode ser, em alguns casos, que a aleatoriedade advenha da complexidade de fatores atuantes, difíceis de se computar. Este é, por exemplo, o caso do lançamento de dados. Tal aleatoriedade, no domínio macroscópico, não é intrínseca ao fenômeno, mas estatística. No caso de eventos microscópicos, como o decaimento de átomos excitados, a desintegração radioativa e o surgimento de pares de partícula e antipartícula, não. Ela é intrínseca. Aí se tem controle sobre as ocorrências e se mede o tempo, após a excitação, em que átomo decai com a emissão de fótons, sempre nas mesmas condições. Observa-se uma distribuição de tempos, da qual se pode obter uma probabilidade "a posteriori" e, com isso, determinar a "meia vida", o mesmo acontecendo com a radioatividade. Nenhuma causa é detectada, mesmo com todas as investigações possíveis. Não há porque se considerar que tenha que haver uma causa que se desconheça. Fazer isso é considerar que a necessidade de causa é apriorística, o que não é. A atribuição de uma causa a um evento, da qual ele seja efeito, é "a posteriori". A afirmativa de que todo evento seja um efeito é uma conclusão indutiva, uma vez que não se tem acesso a todos os eventos que já ocorreram e ainda ocorrerão no Universo todo, para garantir. Não é uma conclusão lógica, deduzida de algo. Ora, nenhuma conclusão induzida é garantida. Um único contra-exemplo a derruba. E esses que eu disse são eventos que não são efeitos. A excitação e condição e não causa. Certamente que é irracional, mas é uma evidência fática, que tem mais valor do que uma conclusão lógica, como critério de verdade. Porque a veracidade (não a validade) de uma conclusão lógica depende da veracidade das premissas e isso só pode ser obtido pelo critério da evidência, em última instância, mesmo que, na instância próxima, a premissa seja veracitada por comprovação lógica. Não se diz que esses eventos são aleatórios "porque são", mas porque não se detectou nenhuma causa para eles, por mais que se investigasse. A incausalidade e o indeterminismo (mesma causa, mesmas condições, efeitos diferentes), são as principais consequências filosóficas do advento da Física Quântica. É irracional supor que eventos tenham que ter alguma causa aprioristicamente se ela não é detectada fenomenologicamente. Não há razão nenhuma para considerar que eventos tenham que ter causa. Podem ter ou não, é o que se observa.

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