quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Professor, embasar qualquer fato ou coisa na racionalidade, significa diretamente dizer que essa coisa está certa? Não há como existirem duas coisas racionais numa discussão? Pergunto isso pois já vi muitos discursos racionais, mas, com debatedores caindo numa espécie de maniqueísmo, algo inesperado 03/02/2016

De modo nenhum. Um argumento é dito racional se ele se fundamenta em raciocínios. E raciocínios são processos mentais que levam a conclusões a partir de assertivas tidas como verdadeiras, de modo que a conjunção delas, pelo uso das relações lógicas, permite obter a conclusão racional que se chega. Todavia isso não garante a veracidade da conclusão por três motivos. O primeiro é que se pode ter feito um raciocínio logicamente incorreto, mesmo que se tenha partido de premissas verdadeiras. O segundo é que se pode ter encaminhado um raciocínio logicamente correto, mas se partiu de premissas falsas, portanto a conclusão não é verdadeira. O terceiro é que se cometeu os dois erros ao mesmo tempo. Note que a lógica não garante a veracidade das conclusões mas apenas a validade dos raciocínios. A veracidade das premissas sobre as quais o raciocínio se fundamenta pode advir de duas fontes. A primeira é que elas sejam conclusões de raciocínios anteriores, construídos de forma válida a partir de premissas verdadeiras. A segunda é que elas sejam assertivas faticamente confirmadas por observações e experimentos, com o uso de todos os cuidados para que sejam evitados enganos e não se tenha incorrido em falácias. De preferência que essa veracidade seja evidenciada por instrumentos isentos de juízos subjetivos de valor, como fotos, vídeos, gravações e medições instrumentais variadas. No caso de testemunhos pessoais, o bom é se ter a disposição vários testemunhos e que as testemunhas não tenham interesse nenhum no resultado da discussão. O melhor ainda é que essas verificações de veracidade sejam feitas por muitos diferentes sujeitos, de modo independente, sem que nenhum conheça o resultado do outro e, inclusive, pelo uso do recurso "duplo cego". Fazer ciência é uma atividade muito séria e muito criteriosa, que requer grande competência e, especialmente, grande modéstia. Nenhuma vaidade pode interferir no estudo. Nas discussões, também, os contendentes têm que estar dispostos a ceder e aceitar a derrota e jamais fazer uso de recursos erísticos. Se eles forem detectados, inclusive por algum membro da assistência, esse membro tem o dever ético de levantar o questionamento contra o contendor que os estiver usando, mesmo que ele seja favorável ao ponto de vista desse contendor.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails