segunda-feira, 19 de março de 2018

O Kalam se encaixaria como uma falácia de composição (por dar atributos ao "conjunto universo" baseado naquilo observado dentro do próprio universo)?

Não se trata disso. O argumento Kalam, proposto por Al-Kindi, no século IX e Al-Ghazali no século XI, com base em considerações Aristotélicas, em resumo diz o seguinte:
Tudo o que começa a existir tem uma causa. O Universo começou a existir, logo o Universo tem uma causa. Que, certamente, não pode ser ele mesmo, tendo que ser extrínseca a ele. Já comentei várias vezes a falácia das duas premissas. O que, principalmente, se chama de "argumento Kalam" é a premissa menor. Segundo esse argumento, o Universo não poderia ser eterno para o passado pois, se seu surgimento tivesse se dado em um momento infinitamente afastado no passado, não teria havido tempo suficiente para se chegar até o momento presente e, portanto, ele não existiria. Como ele existe, logo não é possível que o Universo tenha surgido em um momento infinitamente afastado no passado (modus tollens). A questão é que, ao se dizer que o Universo tenha sempre existido (o que não significa que esteja se dizendo que isso seja verdade), o que está se dizendo não é que ele tenha surgido em um momento infinitamente afastado no passado e sim que não tenha surgido em momento nenhum. Todo momento teria, pois, um momento anterior, isso se prolongando infinitamente para o passado, sem um ponto inicial. Assim sendo, a conclusão não segue as premissas, pois a menor não é necessariamente válida (mas poderia o ser, só que isso não implica na necessidade da conclusão). Por outro lado, a premissa maior também é falaciosa, pois não é verdade que tudo que passe a existir tenha que ter uma causa. Recentemente comentei isso em uma resposta que não está muito abaixo desta. O que já discorri sobre a falácia desse argumento pode ser visto em:
http://wolfedler.blogspot.com.br/search?q=Kalam
http://www.ruckert.pro.br/blog/index.php?s=Kalam

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