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sexta-feira, 14 de março de 2014
O senhor afirma que o livre arbítrio é uma consequência do indeterminismo intrínseco da natureza em escalas fundamentais. Interessante,mas pense nisto: somos nós que controlamos esse indeterminismo? Somos nós que escolhemos o valor médio de uma grandeza observável? Ou isso é escolhido pela natureza?
Nem nós nem a natureza escolhem os valores médios de nada. Eles são resultados "a posteriori". A própria natureza não tem como decidir. A existência desse indeterminismo é que permite que, dentro da complexidade do funcionamento neural, escolhas sejam apresentadas e o processamento mental opte por alguma delas. Claro que essa opção é tremendamente influenciada por uma série de fatores, mas, mesmo assim, não é determinado por eles. Há margem de manobra. Se não houvesse o indeterminismo essencial, não haveria margem de manobra. O futuro seria previsível, se se conhecessem todas as informações sobre o presente. Experimentos simples já mostraram que não é isso que ocorre, como, por exemplo, a difração de elétrons por uma fenda dupla quando só passa um elétron de cada vez. Ou um fóton. A própria natureza não sabe o que vai acontecer. Quando você diz que somos "nós" que fazemos a escolha, tem que se entender que esse "nós", isso é, o "eu" não é algo apriorístico que paira sobre o processamento mental. Pelo contrário, ele resulta do processamento mental. É uma espécie de percepção que o cérebro tem de seu próprio funcionamento e do estado do organismo inteiro. O processamento é que faz a escolha e isso é passado à auto-consciência como a decisão do "eu". Há experimentos neurais que mostram que a escolha precede a consciência do que foi escolhido. Esse processamento não é determinístico.
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