sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Como o Anarquismo, na sua concepção, funcionaria nos dias de hoje? Isso não abriria espaço para revoltas sociais intensas e uma "desordem generalizada"?

Claro que sim. O anarquismo não pode ser estabelecido sem uma preparação das pessoas. O anarquismo é mais uma mudança pessoal do que social. Há que se trabalhar para que isto seja alcançado, mas dentro de algumas centenas de anos. Não tem alternativa. Só que a via para o anarquismo não é o socialismo nem o comunismo e sim o capitalismo pulverizado. Há que acabar, não com os patrões, mas com os empregados, isto é, transformá-los todos em patrões. É assim que se fragmentará a propriedade até que ela possa ser prescindida. O mesmo com o governo. As pessoas têm que tomar para si a iniciativa de fazer o que seria para os governos fazerem, até que não se precise mais de governo nenhum. Isto exige muito mais comprometimento e responsabilidade de cada um diretamente com a coletividade, não delegada a representante político nenhum. Com o dinheiro será assim também. Todo mundo começa a fazer coisas de graça e distribuir para os outros até que não se necessite de dinheiro. Assim é que se atingirá, de modo espontâneo, o anarquismo. O importante é educar a juventude para abrir mão de vantagens, para ser muito trabalhadora sem retorno, para desistir de competir e de vencer e passar a ajudar uns aos outros a construir o mundo. A mudança principal está na mentalidade. Não querer mandar nem obedecer, mas trabalhar de forma consensual, sem preguiça e sem cobiça. Chegaremos lá, mas hoje não dá para ser assim, na totalidade. Mas dá para ser assim, em parte. Você não pode desistir de ganhar dinheiro, senão morrerá de fome. Mas pode desistir de parte do dinheiro e trabalhar parte do seu tempo, ou um tempo adicional, de graça, para empreendimentos comunitários, que venham a diminuir a necessidade de dinheiro. Aos poucos irão surgindo refeitórios comunitários, lavanderias comunitárias, alojamentos comunitários, creches comunitárias, vestuários comunitários, garagens comunitárias, bibliotecas comunitárias, escolas comunitárias, tudo sem envolvimento de dinheiro, só com doações de objetos e de tempo de trabalho das pessoas, sem envolvimento de governo nenhum.

Ask me anything (pergunte-me o que quiser)

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