terça-feira, 22 de março de 2011

O Sr. naturalmente acompanha a tragédia educacional brasileira, particularmente a paulista. O último IDESP revela um retrocesso de 2 anos. Como avalia o que está ocorrendo com o ensino público e que ações representariam uma possível solução? Agradeço.

A vergonha do sistema educacional tem raízes na frouxidão intelectual gradativamente imposta pelo advento e difusão da Televisão, com a consequente redução do hábito de leitura. Isto foi exacerbado com a decisão dos governos em apresentar aos organismos internacionais estatísticas de aprovação na Educação Básica. Com isso criou-se uma redução drástica no nível de exigência para aprovação. Junta-se que a democratização do acesso à educação formal, muito correta, fez com que a carreira do magistério tivesse uma redução significativa da remuneração, o que levou os mais capazes a optar por outras ocupações, deixando o magistério para quem não conseguisse ser algo mais rentável na vida. No meu tempo de estudante do científico, os melhores alunos da turma iam ser professores. Os não tão bons iam ser médicos, advogados e engenheiros. Se se perguntar hoje, num bom colégio particular, quem quer ser professor, não se achará nenhum. Esta fobia por tudo que seja difícil, trabalhoso, custoso, complicado é que degringola o ensino. Os professores ainda bons sofrem uma pressão impossível de ser enfrentada para facilitar e não dar muita reprovação. Tanto por parte dos alunos, quanto dos pais e da direção do colégio. Assim, em breve, teremos uma nação de ignorantes que, facilmente, será cultural e tecnologicamente dominada pelos países mais desenvolvidos. Não há solução a curto prazo. Mas, a longo prazo, há. É preciso criar uma nova carreira de magistério bem remunerada, isto é com dedicação exclusiva e salário de 5 a 10 mil reais no nível básico. O acesso a ela seria por um concurso bem rigoroso e a permanência sujeita a uma avaliação periódica também rigorosa da competência, desempenho, dedicação, resultados, progresso no aperfeiçoamento, inciativas e coisas assim. Isto teria que ser feito por uma auditoria séria e por testemunhos de egressos de sucesso. Nada de avaliação da chefia e dos colegas. Nem auto-avaliação, nem avaliação pelos alunos. Todas essas são eivadas de vícios impossíveis de serem erradicados. Isto seria aberto a todos, inclusive os atuais docentes e, paulatinamente, em uns 15 anos, só trabalhariam os pertencentes à nova carreira. Os colégios teriam que se libertar de qualquer exigência de número de aprovações. Além disso, seria preciso injetar recursos, vultosos mesmo, na equipagem das escolas. O ideal é acabar com o ensino particular, de modo que todos, ricos e pobres, só teriam a escola pública. Desta forma os pais pressionariam e colaborariam para elevar sua qualidade ao nível das melhores particulares de hoje. Porque o Colégio de Aplicação da UFV é a primeira escola do Brasil no ENEM, dentre as escolas públicas e a sétima dentre todas? Porque não transige no nível de exigência, seus professores todos têm dedicação exclusiva, ganham bem, têm mestrado e doutorado como se fossem do nível superior. Isto é o que teria que acontecer com todas as escolas. É possível? Tem dinheiro? É sim! Tem sim! O que não tem é decisão política para isso, por conveniência e pressão dos professores incompetentes. Outra medida importantíssima é tornar todas as escolar de período integral. Foi assim que a Coréia se tornou a potência tecnológica que é hoje: investindo em educação. Isto é prioritário em relação à saúde, aos transportes, à energia, à agricultura e tudo o mais. Porque um povo educado faz com que todo o resto aconteça.

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