sexta-feira, 15 de outubro de 2010

De onde vem a fé em divindades? Por que e como o ser humano começou a acreditar em divindades? Por que seres divinos e não outra coisa? Isso merece uma explicação, não acha?

Sim, mas é simples. A observação das ocorrências da vida cotidiana fez ver ao homem primitivo que todas as ações eram provocadas por agentes identificáveis, pessoas ou animais. Assim, ações das quais não se conseguir identificar o autor passaram a ser atribuídas a entidades invisíveis, os elementais, como duendes, gênios, elfos e coisas desse tipo. Ações de grande porte, como tempestades, raios, erupções vulcânicas, terremotos, avalanches, certamente que deveriam ser produzidas por entidades muito poderosas, então chamadas de deuses. Estes também seriam responsáveis pelas ocorrências da natureza, como a germinação das plantas, o nascer e o por do Sol, e tudo o que não se via que fosse feito por alguém imediatamente identificável. Como ocorriam coisas boas e más, os deuses foram tidos como caprichosos, tendo que ser paparicados para propiciarem coisas boas e desistirem de fazer as más. Isto é algo intuitivo para uma mente primitiva, não no sentido de ter menos capacidade do que a nossa, pois o sapiens sapiens já tinha toda a nossa capacidade, mas não o nosso volume de informações, adquiridas ao longo da história, transmitidas e enriquecidas de geração a geração. Primitivas no sentido da ignorância científica, como muitas pessoas hoje ainda o são, apesar de terem o mesmo grau de inteligência de quem seja instruído. Com o passar do tempo e o início da história, devido à comunicação entre os diversos agrupamentos humanos, foram se cristalizando os mitos ancestrais e, em alguns casos, se direcionaram para a concepção de uma divindade principal, que depois passou, entre os judeus e outros povos, a ser considerada unica. O interessante é que tais divindades eram tidas como particulares de cada grupamento. A noção de um Deus só para todo o mundo é posterior. Não há nada transcendental na concepção da existência de deuses. Trata-se de uma inferência quase óbvia, para quem não conheça as causas naturais dos fenômenos.
Quanto à existência da alma, isto também é uma intuição muito fácil de se compreender, uma vez que parece que o pensamento se dá numa instância incorpórea, diferentemente de uma dor, uma coceira, o frio, o calor. Já os sentimentos parecem acontecer no coração, que é o órgão que mais responde às emoções e um sentimento é uma emoção conscientizada. A consciência do "eu" também parece residir fora do corpo. Somente estudos neurológicos bem recentes é que começam a localizar no cérebro a sede do pensamento, dos sentimentos e da consciência. Como isto parecia estar fora do corpo, inventou-se a noção de alma, como a sede da consciência e do pensamento. E se ela não era o corpo, não precisava morrer quando o corpo morria. Daí a considerar sua sobrevivência fora do corpo, como um "espírito", que seria feito de alguma espécie de "matéria sutil". Muito fácil, também, supor que este espírito pudesse voltar a se incorporar ao corpo de alguma pessoa em gestação e se torna a alma dela. Isto é uma coisa tão intuitiva, que surgiu de forma análoga em grupamentos humanos diversos. Possivelmente as formas mais primitivas desses conceitos vieram com o homem da África, antes que se dispersassem pela Ásia e Europa e depois pela América e a Oceania. Todavia, nada há nesses fatos que possa ser considerado como provas da existência da alma e de Deus. Nos dias atuais, pessoas do meio rural, principalmente, acreditam na existência de muitos elementais, o que não prova que existam. Da mesma forma há culturas elaboradas e sofisticadas, como gregos e romanos e, ainda hoje, indianos, que são politeístas. Isto não garante que os deuses em que eles crêem existam. Da mesma forma a crença das religiões abrahãmicas em seu deus único não é prova de que exista.

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