quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Se TUDO sempre existiu, estamos diante de algo chamado ETERNIDADE. Algo tão misterioso, assombroso, inexplicável e improvavél como um criador para os ateus. Admitir a eternidade é ir contra o racional, contra a lógica, não acha?

Absolutamente NÃO. A eternidade não tem nada de ilógico e é perfeitamente possível, fenomenologica-mente falando. Também não tem nenhum impedimento metafísico ou ontológico. O que acontece é que as observações mostram que houve um momento inicial para o fluxo do tempo em que estamos inseridos. Mas poderia não ter havido. Do mesmo modo que o espaço pode ser finito ou infinito, sem problema nenhum. A questão é saber como é, e isto depende de dados observacionais. No momento os dados indicam que o Universo é espacialmente infinito e temporalmente eterno para o futuro, mas tendo tido um zero dos tempos no passado. Note que também poderia ser finito no tempo para o futuro, isto é, haver um último momento do tempo, além do qual ele não existiria mais.
O que é o espaço e o que é o tempo? Espaço é a cabência, isto é, a capacidade de caber. O espaço surge com o surgimento de um conteúdo para preenchê-lo. Não existe vazio no Universo, isto é, espaço sem conteúdo. Só existe vácuo, isto é, espaço sem matéria, mas sempre preenchido por campo ou radiação. Já o conceito de nada significa ausência de tudo, até de vazio. E o tempo é uma sucessão de alterações no estado do universo, sendo estado a condição em que seu conteúdo “está”, tanto em termos de estruturação espacial quanto em termos dinâmicos, isto é, de mudanças e de tendências a mudanças. Se não houver mudança nenhuma o tempo não passa, e isto poderá vir a ocorrer na chamada “morte térmica” do Universo, situação em que ele todo atingirá a máxima entropia e o mínimo nível de energia (a energia, juntamente com a massa, é conservada, mas seu nível pode variar, isto é sua distribuição entre os componentes).
Nesse sentido é preciso entender a existência de um componente não substancial e não estático do Uni-verso, que são os fatos, os eventos, as ocorrências, os acontecimento, os fenômenos. O Universo não é só feito de coisas, mas do que se dá com elas. Um ser não é algo que seja definido pelo que “é”, mas pelo que “está sendo”, a cada momento, não perdendo sua identidade nas modificações que sofre, uma vez que preserve sua “continuidade histórica”.
Assim o fluxo do tempo pode ser entendido como um desenrolar de variações no estado do Universo, com uma flecha apontando para o futuro, flecha esta estabelecida por duas considerações: a causalidade e a entropia. Quando se tem uma situação cuja obtenção seja um evento provocado por outro, diz-se que o primeiro sucede ao segundo no tempo, sendo, pois, o tempo, uma sucessão de momentos. A entropia global também pode indicar a sentido da flecha do tempo, pois a entropia de um sistema isolado nunca diminui, e, se aumentar, o estado de maior entropia é posterior ao de menor.
Pode-se, pois, considerar uma sucessão de estados, cada qual provocando o próximo e esta sucessão pode ser imaginada tanto propagando-se indefinidamente para o futuro, quando sendo proveniente de uma su-cessão de infinitos estados para o passado, o que significa uma eternidade pretérita, isto é, que não tenha nenhum momento inicial. Não estou dizendo que não tenha tido, mas sim que pode-se admitir, sem con-trariar nenhuma lei descritiva do comportamento da natureza, que não tenha tido.
O chamado “argumento Kalam” diz que isto seria impossível, pois, se o momento inicial dos tempos esti-vesse infinitamente deslocado para o passado, então não teria havido tempo para se chegar até o momento presente, que não existiria. Como ele existe (estamos aqui e agora), então não é possível que o início dos tempos esteja infinitamente afastado no passado. Isto está perfeitamente correto. A questão é que um tempo infinito para o passado não significa uma origem infinitamente deslocada para o passado, mas a ausência de uma origem unilateral. Isto é, o eixo dos tempos não seria uma semi-reta, mas uma reta, estendendo-se infinitamente nos dois sentidos. Então a origem pode ficar em qualquer posição, inclusive agora. O fato de o eixo dos tempos ser uma semi-reta não é por uma impossibilidade lógica ou fenomenológica, mas por uma constatação fatual, com base nas observações.

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