quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Se TUDO (incluo outros universos e dimensões, caso existam) veio a existir, deve ter uma causa incausada, imaterial, atemporal e muito poderosa. Seja lá o que for essa causa! O que acha?

Não precisa ter causa nenhuma. Esta questão de causa e efeito precisa ser bem entendida. Causalidade é uma relação entre eventos, isto é, ocorrências, acontecimentos, que se dão com entidades. Não é uma pro-priedade das entidades ou seres e sim do que ocorre a eles. Se alguma ocorrência provocar outra ocorrência, então a primeira é dita causa da segunda e a segunda é dita efeito da primeira. Mas nem todo evento tem que ser um efeito. A suposição de que todo evento seja efeito de alguma causa é uma indução tirada da observação de inúmeras ocorrências no nível dos fenômenos acessíveis à percepção direta do homem. No mundo subatômico, contudo, há miríades de eventos que não possuem causa. Por exemplo a desintegração radioativa, o surgimento de pares de partícula e antipartícula, a emissão de radiação por sistemas excitados e outros. Todos estes eventos se dão quando o sistema preenche certas condições que os possibilitam, mas nada há que os determine, que é o conceito de causa. Um átomo pode ficar indefinidamente excitado e não emitir luz, como pode, a qualquer momento, fortuitamente, emití-la. A única informação que se tem é sobre a probabilidade desta emissão. O mesmo se dá com o decaimento radioativo. O surgimento de pares é mais fortuito ainda, pois nem a probabilidade se conhece. No caso de eventos macroscópicos, envolvendo um número imenso de eventos microscópicos, cada qual com a sua probabilidade, pela lei dos grandes números da estatística, a probabilidade fica tão concentrada que se apresenta como uma determinação, levando à noção de causalidade e determinismo do mundo macroscópico. Mesmo assim não é impossível que, por exemplo, o ar do escritório em que me encontro, de repente, se concentre todo na extremidade oposta à que me encontro e eu morra por falta de ar. Como todo raciocínio indutivo não é garantido e existem casos em que eventos não são efeitos de causa alguma, então o princípio de que todo evento seja um efeito não é válido. O “Princípio da Causalidade”, em verdade, estabelece que, se um evento seja um efeito, então sua causa o precede, isto é, não pode haver causalidade retrocessa. O futuro não pode causar nada no passado. Isto derruba as explicações teleológicas. Portanto se não é obrigatória haver causa, porque o surgimento do Universo teria que ter tido alguma causa? Se não se detecta, se tudo surgiu sem que nada houvesse antes (nem “antes”), porque inventar uma entidade extrínseca ao Universo para criá-lo? Pode-se perfeitamente supor que tenha surgido expontaneamente e isto é o mais plausível. É claro que, se houve uma causa, e não havia tempo, nem espaço nem Universo, esta causa teria que ser produzida por alguma entidade que não estivesse imersa no espaço nem no tempo, nem que fosse constituída do conteúdo substancial do Universo. Note-se que tal entidade não SERIA, ela mesma a causa, mas o agente provocador da causa, pois causa não é atributo de seres, mas de ocorrências.
Mais ainda, na relação entre causa e efeito, quando há, nada diz que a causa tenha que ser maior ou mais poderosa do que o efeito, mas apenas que provoque a sua ocorrência.
Outra coisa que não existe é o determinismo, isto é, uma mesma causa, nem sempre produz o mesmo efeito, quando há. Isto é um dos pilares da Física Quântica, magistralmente expresso pelo “Principio da Incerteza”. E o Universo funciona com base nas leis físicas, e toda a física é quântica.

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