Sr Ernesto, existe diferença entre anarquista e socialista?

Claro, e muita. O Socialismo é uma concepção política em que o governo concentra os meios de produção de modo a abolir a propriedade particular, passando todos a serem empregados do governo. No Socialismo extremo, como se deu na União Soviética, existe um único partido que, normalmente é chamado de "Partido Comunista" porque o Socialismo se diz uma fase transitória para o Comunismo, no qual os meios de produção deixam de ser do governo e passam a ser dos próprios trabalhadores, abolindo-se o governo. Mas esta transitoriedade nunca se deu e o Socialismo, onde se estabeleceu, passou a ser permanente (até que foi derrubado, onde foi). Estabeleceu-se o que se denominou "Ditadura do Proletariado" que, de fato, tornou-se uma ditadura do Partido Comunista. Nas Democracias, onde o Socialismo governou, mesmo sem ditadura e sem partido único, o governo nacionalizou grande parte dos meios de produção, passando a ser, de fato, o grande patrão e o grande capitalista. O Anarquismo, por outro lado, é a concepção política de que o governo já seja abolido e os meios de produção passem a ser dos próprios trabalhadores, que se tornam, todos, patrões, não havendo empregados (os antigos patrões se tornam, eles também, trabalhadores). Na anarquia, não há nem estado, nem governo, nem propriedade, nem dinheiro. Mas há uma ordem muito mais perfeita do que no capitalismo e no socialismo, porque não é imposta nem pelo poder econômico nem pelo poder político, mas assumida espontaneamente pelas pessoas. O anarquismo poderia ser individualista e capitalista, mas, nesse caso, não permaneceria, porque iria permitir o nascimento do poder de uns sobre os outros, recriando governos e estados. O verdadeiro anarquismo tem que ser comunista. Mas não controlado por governo e estado nenhum e sim pela própria sociedade, sem instrumentos oficiais. A anarquia é o suprassumo da civilização. Ela não pode ser imposta. Tem que surgir espontaneamente e no mundo todo. Não é possível haver uma nação anarquista se o mundo todo não o for, pois na anarquia não há fronteiras. Por isso é algo que só acontecerá num futuro mais distante, da ordem de vários séculos, até que o espírito das pessoas assim o queira. Pode-se, contudo, envidar esforços para que esse tempo se abrevie por iniciativas anárquicas, como trabalhar parte do tempo de graça, distribuir os bens, promover projetos comunitários à revelia dos governos, aprovar leis que promovam a distribuição da posse dos meios de produção e coisas assim.