Discordo do que você disse. Para começar, a concepção monista-fisicalista da mente não é materialista. Ela concebe que a mente advém do funcionamento fisiológico do cérebro e seus anexos, mas isso não envolve apenas matéria. Envolve matéria, campos de interação (especialmente elétrico), estruturas e dinâmicas das ocorrências. E isso não é nada determinista. A natureza não é determinista, como o concebia Laplace. Não só admite o indeterminismo como a incausalidade, bem como o determinismo e a causalidade, mas nenhum deles como prescrição necessária. Há casos e casos, de um tipo e do outro. Isso não é concepção filosófica. É resultado de experimentos e observações das ocorrências reais. Portanto, o fato da mente não envolver nenhum componente espiritual, como uma pretensa alma, absolutamente não exclui a possibilidade de liberdade de escolha das decisões. Mesmo inconscientes. O pensamento e o raciocínio inconsciente consistem na maior parte do volume de funcionamento da mente. Mas ele envolve escolhas inconscientes que refletem decisões internas, certamente influenciadas fortemente pelo temperamento, pela personalidade e por tudo que a mente já registrou das vivências adquiridas e das impressões do ambiente natural e social em que se vive. Isso não exclui um grau de escolha. No caso consciente isso é patentemente perceptível, mas o inconsciente é similar, apenas que não levado ao conhecimento do "eu" consciente. Em suma, o livre arbítrio é perfeitamente possível em um mundo exclusivamente físico (não apenas material), em razão do indeterminismo e da incausalidade que aparecem, tanto em nível microscópico quanto em nível macroscópico, tópico sobre o que já discorri em outra pergunta neste Ask.
Outro aspecto a comentar é que a mutabilidade não prejudica a caracterização do ser, em sua essência. O ser não é o que sempre é, mas o que "está sendo", à medida que evolve. Todavia ele preserva uma continuidade temporal, digamos "histórica", que o faz continuar a ser o que é, com as mudanças. Você continua a ser você mesmo que todos os seus átomos seja trocados (o que acontece inúmeras vezes ao longo da vida), mesmo que seu aspecto, suas memórias e sua personalidade mudem ao longo de sua vida.
A interpretação mecanicista do mundo é totalmente incorreta, não só em termos psíquicos, mas também em termos biológicos, astronômicos, cosmológicos, geológicos, químicos e físicos. A natureza não é mecânica e nem determinista. Mas ela é toda física, isto é, reduz-se à física, em última instância. Tudo, inclusive a economia e o amor. Mas não um reducionismo linear, aquele que diz que "o todo é a soma das partes". Não é. Além de não ser a soma, é preciso entender que só existe um todo, que é o Universo inteiro. Qualquer sistema, isto é, subconjunto do Universo, está sempre em interação com ele. Ou seja, não existe um "Sistema Isolado" completamente. Isso é uma impossibilidade total. Não há como, por exemplo, isolar o efeito das massas na curvatura do espaço.
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