sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Professor, andei pesquisando "inurl:wolfedler acaso" e senti a necessidade de saber, de modo abrangente, qual a sua atual concepção acerca dos "acasos" e "coincidências", e qual a relação que isso tem com o surgimento do universo, bem como nosso dia a dia... Poderia nos explicar?‎

O acaso e as coincidências são os fatores mais influentes na ocorrência de tudo o que se possa conceber. O próprio surgimento do Universo foi um evento casual. Ou seja, não houve nada que o determinasse. O Universo surgiu a partir de coisa alguma sem que nada o provocasse e sem haver propósito nenhum para tal. Mesmo que considere que o surgimento do Universo tenha sido um ato criativo de alguma entidade extrínseca a ele, não se pode considerar senão que isso tenha sido feito sem ter do que provir, pois, se já houvera algo de que se fazer o Universo, aquilo já seria o Universo. Portanto, ou o surgimento do Universo se deu a partir de nada ou ele sempre existiu. Mas esse surgimento, se ele se deu, teria sido um evento causado ou incausado? Para que tivesse sido causado, seria preciso que já houvesse algo que determinasse esse surgimento. Se não havia Universo, isso teria que ser algo extrínseco ao Universo. Mas, se o Universo é o conjunto de tudo o que existe, nada existe que não pertença ao Universo. Então é impossível haver algo extrínseco ao Universo para provocar o seu surgimento, pois esse algo, existindo, já seria um componente do Universo que, assim, não estaria surgindo mas, apenas, se transformando. Logo, se o Universo teve um começo, esse começo além de não ter de que provir, também teve que ser um evento incausado. Uma vez existindo Universo, os eventos que nele ocorrem ou são provocados por alguma causa ou são fortuitos, isto é, incausados. A maioria é incausada, pois é o que mais acontece em nível subatômico, que responde pela esmagadora maioria de todos os eventos. Eventos macroscópicos, em geral, são causais pelo fato de corresponderem a uma conjunção de miríades de eventos microscópicos, o que acarreta que suas probabilidades de ocorrência casual se concentrem tanto em pontos específicos que o evento se torna causal. Por exemplo, o acendimento de uma lâmpada pela passagem da corrente em seu filamento é uma ocorrência causal decorrente de um imenso número de ocorrências casuais, que são as emissões de fótons por átomos excitados. Na teia espaço-temporal das ocorrências do Universo, os eventos vão surgindo e, em muitos casos, provocando outros, ao mesmo tempo que vários se dão sem provocação e isso vai se constituindo uma intrincada rede de conexões, de cardinalidade muito superior à cardinalidade dos eventos, de modo análogo ao fato das conexões neuronais serem em número vastamente superior ao número de neurônios. Assim, fica impossível qualquer previsão garantida do futuro, mas apenas um levantamento de probabilidades.

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