Infelizmente não. É isso o que discute o Alain de Botton em seu livro "Religião para Ateus", que recomendo. Faz falta isso: Templos de fraternidade, onde pessoas se reúnam para assistir preleções filosóficas, científicas, politicas, artísticas, humanas em geral, até mesmo religiosas, mas de forma aberta e não dogmática. Onde todos se embeberiam de sabedoria para levar suas vidas, mas pudessem refletir, discutir e contestar. E onde a arquitetura elevasse a mente à virtude, que não é nada religioso, mas é superior e algo a que se deva dedicar, para um mundo mais harmônico, justo, fraterno, pacífico e aprazível. Onde pessoas se reuniriam para empreitas filantrópicas, mas sem que fosse preciso a adesão a nenhuma instituição ou clube. Mas não como uma religião, como o Augusto Conte quis fazer com o positivismo. Que as pessoas também se reunissem em refeições comunitárias nas quais todos se confraternizariam, ricos e pobres, direitistas e esquerdistas, todas as orientações sexuais, todas as ocupações, todas as etnias, todas as idades, numa celebração da existência e do fato de sermos humanos e partícipes do Universo. Onde se discutiriam os problemas da "polis" e se proporiam soluções. Muito melhor do que o parlamento municipal. Não são apenas as religiões que podem se ocupar com temas transcendentais. Também recomento o livro "O Espírito do Ateísmo" de André Conte-Sponville.
Considero que espiritualidade seja um conceito desvinculado de crenças e religiões. Trata-se de um conceito filosófico, entendido como atitude de vida. É aquela atitude de se priorizar os valores mais elevados e nobres da humanidade, como bondade, solidariedade, cordialidade, gentileza, altruísmo, compaixão, abnegação, diligência, nobreza de caráter, justiça, honestidade, lealdade, sinceridade, coragem e bravura na defesa do bem, da virtude e de todos os valores mencionados, bem como a beleza, o conhecimento, a prudência, a sabedoria e tudo que seja edificante, enlevante e capaz de fomentar a paz, a harmonia, a alegria e a felicidade de todos os seres. Trata-se de uma disposição de viver virtuosamente e em prol do outro, da coletividade, da humanidade e de toda a natureza, despido de todo e qualquer egoísmo, orgulho, soberba, inveja, avareza, maledicência, vaidade, ambição, mesquinhez, desonestidade, prepotência, enfim, de todos os vícios. É um desejo de fazer prevalecer o bem, a virtude, o conhecimento e a sabedoria sobre o mal, a ignorância e o vício.
Isto é independente de qualquer crença em Deus e na existência de espíritos e de uma alma imortal.
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