segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Diferente do futebol, a religião consegue realizar o papel de reunir as pessoas de uma maneira agradável, uma congregação, algo que traz paz ao unir as pessoas. Há algum tipo de reunião de pessoas entre ateus que possa proporcionar um efeito igual?

Infelizmente não. É isso o que discute o Alain de Botton em seu livro "Religião para Ateus", que recomendo. Faz falta isso: Templos de fraternidade, onde pessoas se reúnam para assistir preleções filosóficas, científicas, politicas, artísticas, humanas em geral, até mesmo religiosas, mas de forma aberta e não dogmática. Onde todos se embeberiam de sabedoria para levar suas vidas, mas pudessem refletir, discutir e contestar. E onde a arquitetura elevasse a mente à virtude, que não é nada religioso, mas é superior e algo a que se deva dedicar, para um mundo mais harmônico, justo, fraterno, pacífico e aprazível. Onde pessoas se reuniriam para empreitas filantrópicas, mas sem que fosse preciso a adesão a nenhuma instituição ou clube. Mas não como uma religião, como o Augusto Conte quis fazer com o positivismo. Que as pessoas também se reunissem em refeições comunitárias nas quais todos se confraternizariam, ricos e pobres, direitistas e esquerdistas, todas as orientações sexuais, todas as ocupações, todas as etnias, todas as idades, numa celebração da existência e do fato de sermos humanos e partícipes do Universo. Onde se discutiriam os problemas da "polis" e se proporiam soluções. Muito melhor do que o parlamento municipal. Não são apenas as religiões que podem se ocupar com temas transcendentais. Também recomento o livro "O Espírito do Ateísmo" de André Conte-Sponville.
Considero que espiritualidade seja um conceito desvinculado de crenças e religiões. Trata-se de um conceito filosófico, entendido como atitude de vida. É aquela atitude de se priorizar os valores mais elevados e nobres da humanidade, como bondade, solidariedade, cordialidade, gentileza, altruísmo, compaixão, abnegação, diligência, nobreza de caráter, justiça, honestidade, lealdade, sinceridade, coragem e bravura na defesa do bem, da virtude e de todos os valores mencionados, bem como a beleza, o conhecimento, a prudência, a sabedoria e tudo que seja edificante, enlevante e capaz de fomentar a paz, a harmonia, a alegria e a felicidade de todos os seres. Trata-se de uma disposição de viver virtuosamente e em prol do outro, da coletividade, da humanidade e de toda a natureza, despido de todo e qualquer egoísmo, orgulho, soberba, inveja, avareza, maledicência, vaidade, ambição, mesquinhez, desonestidade, prepotência, enfim, de todos os vícios. É um desejo de fazer prevalecer o bem, a virtude, o conhecimento e a sabedoria sobre o mal, a ignorância e o vício.
Isto é independente de qualquer crença em Deus e na existência de espíritos e de uma alma imortal.

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