sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Para você o que é fé? e porque as pessoas tem fé?

Crença é o aceite de afirmações não evidentes nem comprovadas com base em indícios de sua plausibilidade. Não há como viver sem crenças, pois não se têm evidências nem provas a respeito de tudo. Fé é uma crença sem fundamento nem plausibilidade. Logo, fé é algo inteiramente descabido. Normalmente o objeto de uma fé é a existência de uma realidade sobrenatural, composta de seres não físicos, como Deus, anjos, demônios, almas e, às vezes, outros, como gênios e elementais que tais. A fé a respeito disso não se restringe a considerar que existem, mas também que possuam toda uma história e um funcionamento, ligados, principalmente, a uma existência posterior à cessação do funcionamento do organismo biológico, em alguns casos, inclusive, com a transferência da dita "alma" para outro corpo, vindo a constituir uma nova pessoa com a mesma alma. Em torno de uma fé costuma existir toda uma doutrina com interpretações sobre o surgimento do Universo, da vida, do homem, do seu destino, de seu comportamento terreno, da estruturação da sociedade e muito mais. Não só doutrina, mas todo um aparato institucional, como profissionais dedicados, estrutura hierárquica, codificação jurídica, edificações, cerimoniais, simbologia. É o que alguns sociólogos, como Moscovici, denominam de "Representação Social". São as religiões. Uma fé, contudo, não pode ser erigida como critério de verdade, pois existem muitas pessoas que possuem fé sincera em coisas completamente diferentes. Como a verdade tem que ser única, não é possível que todas as fés sejam verdadeiras. Qual o seria? O critério tem que ser, necessariamente, extrínseco às fés. Ao que me consta, nenhuma delas passa por um teste objetivo, com base em evidências e provas cabais, de sua veracidade. Suponho, pois, que todas sejam falsas. A questão é, se não há evidências nem provas de que qualquer das fés seja verdadeira, porque muitas pessoas as adotam? A razão é que, em sua evolução cultural, o homem percebeu que os eventos macroscópicos possuem uma relação de causa e efeito (só recentemente derrubada como necessidade pela Física Quântica). Nos casos em que a causa não era perceptível, supunham a existência de seres invisíveis como seus causadores. Daí surgiu o conceito dos deuses e os povos passaram a venerá-los e propiciá-los para que produzissem os efeitos desejados e não produzissem os indesejados. Alguns povos evoluíram esse conceito para um deus único e isso foi sendo construído aos poucos até chegar à complexidade exibida pela doutrina da Igreja Ortodoxa, por exemplo. Ou a complexidade do hinduísmo. Outro fator que produziu a fé foi o fato do pensamento parecer ocorrer em uma instância extra-corpórea e o pavor que o conhecimento da morte trouxe, se ela fosse aceita como a cessação completa da existência. Daí a noção de alma e de sua sobrevivência à morte biológica. Juntando Deus e a alma, imaginou-se que, nessa realidade, poderia haver algum tipo de comunicação. E que se Deus tinha poderes mágicos, então poderia atender a pedidos, o que originou a oração, as promessas, os sacrifícios e tudo o mais. Em suma, a fé supre um anseio de acolhimento, de proteção, de esperança, inclusive em relação à justiça que aconteceria no outro mundo em relação aos malvados que se dessem bem neste. Percebendo isso, os detentores do poder politico e militar se uniram aos do poder religioso para justificarem-se como mandatários e para obterem do povo o atendimento de seus desígnios sem protesto, tanto pelas promessas das venturas celestiais quanto pelas ameaças dos sofrimentos infernais. Só há uma maneira de reverter essa ilusão: informação, educação, estudo, análise, reflexão, comparação, contestação. Não digo que pessoas de fé sejam burras ou ignorantes, mas digo que estão equivocadas e não se debruçaram ampla e profundamente sobre o objeto de sua fé, como eu o fiz, pois já fui uma pessoa de fé.

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