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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Professor, dormir pouco prejudica muito o poder cognitivo de alguém?
Depende do que você chama de pouco. Há uma necessidade mínima que varia com a idade e com cada pessoa. Para saber a sua, durante uma semana, deite mais cedo e durma até que o sono acabe. Continue com suas atividades normais, físicas, mentais e alimentares. Mas não coloque nenhum despertador. Deixe passar uma semana para anular a programação que o despertador já havia feito em você. Então veja o tempo normal que o seu organismo necessita de sono. Eu diria que, na média, depois da adolescência, até o início da velhice, um adulto requer de seis a sete horas de sono por noite. Alguns podem passar com menos, outros requerem mais. Eu durmo umas cinco. Depois o sono acaba. Faz anos que sou assim. Pessoas mais velhas podem dormir menos, do mesmo modo que crianças precisam de mais. Dormir menos do que o necessário, de fato, prejudica a cognição e afeta negativamente a atenção e outras funções psíquicas, como o reflexo, a associação e concatenação de idéias, a memorização, e evocação de memórias, o raciocínio, a decisão. O que acontece é que o hipocampo armazena tudo o que ocorre no dia com a pessoa. No sono o cérebro seleciona o que seja importante e passa para o córtex. O resto é descartado. Tudo começa de novo no dia seguinte. Os critérios de seleção são o envolvimento emocional e o reforço. Por isso é importantíssimo que estudantes recapitulem a matéria vista em aula em casa, no mesmo dia, antes de dormir. Tarefas de casa são um componente essencial de toda aula. E elas têm que ser muito bem planejadas, com base em neuropedagogia, o que poucos professores dominam. A pedagogia ainda está muito atrasada em muitas licenciaturas. Além disso, a limpeza do lixo mental restabelece a rapidez do fluxo neural dentro do cérebro. O sono propicia isso. E mais ainda. No sono há um rearranjo das estruturas inconscientes que definem as prioridades para decisões. Se fixam os afetos, que são o aspecto mais essencial do processamento mental, mesmo o processamento lógico. A lógica, em verdade, é apenas um modelamento consciente de apresentação de resultados para convencimento. O verdadeiro raciocínio se dá de forma intuitiva e inconsciente, envolvendo muita emoção. E os parâmetros decisórios desse processo são alterados a cada dia, pelas vivências, e fixados durante o sono. A respeito disso é interessante ler os livros de António Damásio, Steven Pinker, Joseph LeDoux, Steven Rose, Daniel Dennett, Carl Zimmer, David Chalmers, John Searle, Thomas Nagel, Eric Kandel, o casal Churchland e outros.
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