Sim, para todas as escolas, públicas e particulares. É um excelente meio de se aferir a qualidade do ensino das escolas para que se possam tomar medidas corretivas. E também um poderoso fator de pressão para que as escolas e os estudantes se empenhem em conseguir um bom preparo acadêmico para a vida, quer façam ou não um curso superior. O processo ainda não está otimizado, mas, mesmo assim, é preciso que seja colocado em funcionamento para, justamente, irem se verificando os pontos falhos e corrigí-los. Considero, inclusive que todos os vestibulares devam ser abolidos inteiramente, ficando apenas o ENEM como instrumento de seleção para o acesso ao nível superior. Já fui presidente da Comissão Permanente do Vestibular da Universidade Federal de Viçosa, entre 1984 e 1988. Participei da elaboração e correção de questões de Física na UFV, na UFJF, na UFSJ e na FDV durante muitos anos. Atualmente sou vice-diretor de uma escola de Ensino Médio e Fundamental que também possui um curso pré-vestibular com quase mil alunos. Além disso, já ocupei o cargo atualmente correspondente ao de Pró-Reitor de Graduação, na UFV. Estou bem por dentro do assunto e tenho participado de reuniões a respeito. Muitas universidades e faculdades têm medo da segurança e lisura do processo. Estes aspectos conjunturais têm que ser resolvidos e o estão sendo. Como modelo de exame de saída do Ensino Básico (Fundamental e Médio), considero uma excelente proposta. Não acho que as universidades devem aferir conhecimentos específicos das áreas para as quais o estudante se dirigirá. O importante é que ele seja bem preparado de uma forma ampla em todas as áreas no Ensino Médio. Considero um absurdo que um advogado não entenda de trigonometria, eletromagnetismo ou genética, que um engenheiro não entenda de história, geografia ou literatura, que um médico não entenda de termodinâmica, filosofia ou sociologia, pelo menos no nível do Ensino Médio, que não se aprofunda em nada. Faz parte do "pano de fundo" cultural que toda pessoa de nível superior precisa saber, seja ela um filósofo, um cientista, um empresário ou um fazendeiro. Todos têm que conhecer quem foi Turgueniev, Fauré, Clapeyron, Agassis, Bouguereau, Fangio, Clemenceau, Watson e Crick, von Neumann, von Weber, Joe Louis, Al Jolson e assim por diante. É o legado cultural da humanidade. O problema é que o "novo ENEM" desvirtuou sua proposta original de multidisciplinariedade e voltou para questões separadas por matéria. Isto foi um grande retrocesso. Além disso, muitas questões dos enems já realizados são excessivamente fáceis ou apresentam um texto que não se mostra necessário para a solução da questão. A prova tem que medir conhecimentos e habilidades. Como os vestibulares tradicionais se concentram mais em conhecimentos, o ENEM acabou se fixando mais em habilidades. Mas não se podem esquecer os conhecimentos. Outra crítica é que, sendo um exame único para todo o Brasil, deixa de lado as regionalidades. Isto não é problema. As regionalidades têm que ser abordadas nos níveis fundamental e médio e cobradas nas avaliações dos colégios. Mas não precisam cair no ENEM, que pode, de forma inteiramente válida, fixar-se apenas naquilo que for comum a todas as regiões. O maior desafio, para mim, é a formação interdisciplinar dos professores, que terão que passar por um ampla e profunda reciclagem. Recomendo mesmo que todos façam um atualização do tipo "cursinho pré-vestibular", ou "pré-enem" e se submetam, também, aos exames do ENEM, para aferir sua proficiência geral. É claro que um professor, de qualquer matéria, de qualquer escola, tem que ser capaz de se sair bem no exame a que seus alunos vão se submeter.
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