segunda-feira, 20 de agosto de 2018

MINHA HERANÇA

Às vezes quedo absorto,
olhando longe o vazio,
pensando a vida passada,
lembrando os anos vividos.
Será que foi proveitosa?
Será que deixo saudade?
Será que parto sem mágoa?
Será que fui bem amado?
À minha posteridade,
filhos da carne e da lousa
e aos por amor adotados,
quero passar minha herança.
Na vida não fiz fortuna
nem deixo bens de valor,
nada que valha dinheiro,
nada que seja poupança.
Mas deixo meu horizonte.
A vista descortinada,
do mundo belo e fraterno,
dos homens em harmonia.
Deixo a fé no trabalho,
orgulho da coisa bem feita.
Deixo a honra e a modéstia
de ter sido verdadeiro.
E a luta cotidiana,
contra toda hipocrisia,
A peleja altaneira
prá acabar a vilania.
E a ternura escondida
pela gente mais sofrida.
A raiva bem merecida,
da soberba presunçosa.
Derrotas acachapantes
frente ao vil e prepotente,
são folhas edificantes
de uma vida merecida.
Mas algo passo adiante
a toda a posteridade:
A flama da esperança
na tocha da humanidade.
Levem adiante sem medo
prá que essa luz poderosa
do bem, saber e justiça,
alto vá resplandecer.
E as trevas da ignorância,
os freios da iniquidade
e a peste da malqueirança
não mais poder hão de ter.
Ernesto von Rückert
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