segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Concordas com isso: "Enquanto não concedemos às ideias que nos repugnam a mesma chance que concedemos àquelas que nos agradam, estamos em plena fé cega, ainda que essa fé seja em algo a que chamamos “razão”. "

Discordo. Depende da razão pela qual a ideia nos repugna. Se essa repugnância for uma questão de preferência pessoal sem fundamentação objetiva, devemos sim, dar a ela toda a chance de se provar verdadeira. Mas se essa repugnância for por uma razão objetiva que caracterize a ideia como malsã e perversa, isto é, totalmente anti-ética, não se pode dar a ela a chance de florescer, pois se estaria dando ao mal a permissão de se disseminar e prejudicar muita gente. A questão é saber que tipo de ideia seria essa. Há o perigo de se patrocinar um policiamento ideológico e de que o critério de eticidade da ideia não seja verdadeiramente objetivo, mas distorcido para assim parecer. Isso já aconteceu muito na humanidade, por exemplo, no tempo da inquisição. O ideal é que todas as ideias possam ser examinadas sem paixão e de forma isenta, mas que só se permita que o que elas proponham se converta em ação caso seja benéfico de forma ampla. De qualquer modo o conceito de benéfico pode ser enviesado e subjetivo. Por exemplo, alguém pode considerar benéfico matar outro por não ser fiel à sua concepção religiosa. Toda fé é, por definição, cega, de modo que fé é um grave defeito a ser evitado a todo custo. O que se pode é ter alguma crença, desde que ela tenha fortes indícios de plausibilidade. No caso, a crença do valor da razão em oposição à fé é de alta plausibilidade. Mas a razão também tem que ser vigiada. Daí o valor do ceticismo. O próprio ceticismo, também, tem que ser encarado ceticamente. Em suma, não se pode estabelecer uma regra de validade de critérios para se pautar as ações que não possua algum senão. Portanto, fique-se com a de que sejam válidas as ações que não causem malefícios e que promovam a maximização da felicidade para o maior número de seres, que sejam as que desejemos que a nós mesmos sejam dirigidas e que possam ser consideradas como prescrição geral para todos

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