terça-feira, 19 de maio de 2015

Professor, você não acha que o período medieval, ao contrário do que pensam, foi um período de grande produção cultural que legou uma forte influência ao ocidente moderno?‎

Foi um período de produção cultural sim, mas não tão grande quanto a idade moderna e a contemporânea. E deixou um legado influente ao ocidente moderno sim. Infelizmente essa influência não foi uma boa influência. Em muitos casos foi nefasta. Claro que houve casos benéficos, mas, em geral, a influência religiosa que sempre esteve por trás de todo o desenvolvimento filosófico, artístico e científico da Idade Média foi uma influência castradora, que impediu a pesquisa livre da verdade, da expressão artística, da investigação científica, da reflexão filosófica. Os filósofos medievais, mesmo tendo tido importância, não eram livre-pensadores, como é preciso que todo filósofo seja. Claro que muitos monges fizeram um trabalho valioso de compilação do legado grego e árabe. Mas isso foi feito, de certa forma, sub-repticiamente, sem o aval e, muito menos, o incentivo das autoridades religiosas e seculares. Se tivesse havido um incentivo à investigação científica e filosófica livre, o progresso do ocidente teria sido abreviado em, pelo menos, meio milênio. Ou seja, hoje estaríamos onde estaremos só daqui a quinhentos anos. Da mesma forma se não tivesse havido o retrocesso da instauração do império romano e a república tivesse continuado, bem como a democracia grega, talvez hoje o mundo já poderia ser anarquista. Se Constantino não tivesse oficializado o cristianismo, talvez o islã não tivesse surgido e o mundo hoje já poderia ser ateu. Mas isso são conjecturas. Sem a oficialização de Constantino, o cristianismo talvez permanecesse como uma religião marginal, como o espiritismo é hoje. E o paganismo é muito mais liberal e fácil de ser extinto. Em verdade a humanidade optou, por uma série de coincidências de eventos, por um caminho histórico institucional bem pior do que poderia ter sido. Não só em termos religiosos, mas em termos políticos, tecnológicos e de liberdades. Tudo isso que se custou a conquistar já poderia estar em vigor há mais de meio milênio. Ainda hoje estamos presos a amarras de tradições castradoras de liberdades e de progresso. Como a monogamia, a propriedade privada, a herança, o trabalho assalariado, as fronteiras nacionais, os governos e muito mais.

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