domingo, 7 de novembro de 2010

O que pode dizer de Thomas Nagel(sempre lembro do Thomas Mann)? Caso não o conheça, fiquei sabendo de algumas ideias dele e me interessei muitíssimo:http://www.formspring.me/ParaleloSA/q/1337565445 http://www.formspring.me/ParaleloSA/q/1334151735 Abraço.

Lí o seu livro "Uma Breve Introdução à Filosofia", há uns quatro anos e, tendo sido acicutado por esta pergunta, voltei a lê-lo. Muito bom, no sentido em que mostra que fazer filosofia é filosofar e não estudar o que disseram os filósofos. Acho isto importantíssimo e já discuti com alguns filósofos. Filósofo, para mim, é o que filosofa e não o que apenas "entende de filosofia", mesmo que isto seja importante também, mas só isto é pouco. E filosofar é diferente de fazer ciência, matemática ou outra atividade intelectual, pois não é obter verdades empíricas, nem lógicas e nem descritivas, mas reflexivas, produzidas pela razão ao contemplar o mundo natural, social e cultural e a própria mente, sem uma metodologia estanque. Isto é o que, como penso, precisa ser feito no Ensino Médio, sem deixar de apresentar a história de filosofia, que, geralmente, é só o que é feito. Parece que os legisladores e administradores do processo educativo não estão ainda convencidos da necessidade imperiosa e essencial de treinar os jovens a filosofar, para a qualidade de sua vida pessoal e para a harmonia da sociedade. Mas filosofar mesmo, e não apenas, conhecer filosofia.
A questão que se põe nesses textos é a da objetividade ou subjetividade da moral. Tudo se resume, no meu entendimento, nos conceitos de objetividade e subjetividade. Esta é a qualidade de todo ente, juízo ou conclusão inteiramente dependente do sujeito, que deixa de existir com a inexistência dele. Por outro lado, a objetividade seria a qualidade dos entes, juízos e conclusões cuja existência e valor não dependem de sujeito nenhum para serem válidos, mesmo que tenham sido formulados por sujeitos. Ao dizer que a Terra é redonda estou fazendo uma afirmativa que pode ser verificada por qualquer um e que permanece verdadeira, mesmo que não haja ninguém para expressá-la, pois, se houvesse, teria que concordar. Já dizer que jiló é gostoso é um juízo subjetivo. É preciso, contudo, considerar dois tipos de objetividade. A primeira se refere aos entes e fenômenos do mundo exterior às mentes. Isto não é problema, a não ser que optemos pelo solipsismo. Mas há um tipo de objetividade que denomino de "consenso inter-subjetivo". O que é isto? Os entes matemáticos, por exemplo, não têm existência real na natureza, mas são construtos mentais. Todavia, são apreendidos por uma coletividade de mentes que concordam umas com as outras em seu significado e nas relações lógicas que uns têm com os outros. Pode-se, portanto, considerá-los objetivos, mesmo que, se todas as mentes capazes de concebê-los não mais existirem, eles também deixam de existir. Nesse sentido é que se pode falar de um caráter objetivo da moral e da ética, da mesma forma que das normas, das leis e da política. Enquanto a moral prescreve o tipo de comportamento aceitável por um grupamento de pessoas em certa época, lugar, estrato social e, até, gênero, a ética investiga a validade dessas prescrições. É como se fosse uma "epistemologia-metafísica da moral". A moral, mesmo, não é subjetiva, isto é, cada pessoa não pode, moralmente, fazer o que acha que é certo por seus próprios critérios, pois o grupo a que pertence estabelece um consenso geral sobre o que é aceitável ou não. Isto não significa que os padrões morais sejam necessariamente éticos. Por exemplo, poligamia é imoral em muitos grupamentos humanos, mas não é anti-ética. Por outro lado, a escravidão não é imoral em outros grupamentos mas é anti-ética. Assim, considero ser perfeitamente possível se debruçar sobre as ações humanas e procurar extrair princípios norteadores do que seja certo ou errado, bom ou mau, correto ou incorreto, justo ou injusto, válido ou inválido, honesto ou desonesto, benéfico ou maléfico, benévolo ou cruel e toda esta dicotomia que caracteriza o valor moral de alguma ação. Isto de uma forma objetiva, no sentido de consenso entre subjetividades que mencionei. Note que não se atribui valor moral a um ser, mas sim a ações que um ser, consciente e livre, seja capaz de fazer.

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