Claro que sim! Amor não se extingue. Uma vez que se ame alguém, mesmo que, depois, passe-se até a odiá-lo, o amor ainda continua, incubado, podendo voltar a florescer, conforme as circunstâncias. Outra noção errônea é a de que o amor seja excluivista. Nada disso. É perfeitamente possível e normal amar-se a várias pessoas, tanto simultânea quanto sequencialmente, com o mesma sinceridade e intensidade, sem o amor a uma diminuir o amor à outra. A negação desta possibilidade pela sociedade é razão de grande sofrimento pessoal para muitos. Não estou falando de modalidades diferentes de amor, como filial, maternal, fraternal, mas do amor erótico mesmo. Assim a poliginia e a poliandria deveriam ser situações consideradas inteiramente normais pela sociedade, com todas as implicações sociais e jurídicas decorrentes, quer as pessoas sejam legalmente ou não conjugalmente reunidas. O pior é a hipocrisia de se admitir, não declaradamente, mas sorrateiramente, a existência de situações extra-conjugais, muitas vezes do conhecimento do cônjuge enganado, que finge não saber para não por a perder sua condição econômica matrimonial. Isto é que é imoralidade. Traição é imoralidade. Pluralidade amorosa não, desde que consentida explicita e abertamente, perante a sociedade, por todos os envolvidos. Esta é uma concepção de família pluralista, simultânea, sequencial ou ambas as coisas, muito mais honesta e capaz de promover a felicidade, inclusive das crianças. Nesta concepção o ciúme se apresenta como algo inteiramente sem cabimento. A noção de posse do companheiro ou companheira pode ter sido útil num estágio da humanidade em que os papéis dos gêneros eram distintos. Na sociedade atual, em que todo adulto, independentemente de seu sexo, tem que prover seu próprio sustento, sem depender de nenhuma sociedade conjugal, isto não tem sentido. Compartilhar a pessoa amada com outros amantes é uma situação completamente plausível e, até mesmo, ideal, para a construção de uma sociedade perfeita.
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