quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Ora Ernesto, mas a lógica sendo correspondente a realidade tira o total sentido de afirmá-la que é uma criação humana, faz sentido apenas na ideia que se tem de afirmar que a ciência é uma construção humana, por exemplo. Então caberia um realismo, não?

A questão é a seguinte: é possível, em lógica e matemática (aritmética, álgebra, análise, geometria e topologia), construírem-se sistemas inteiramente abstratos e totalmente dissociados da realidade. Basta que tenham consistência interna. Os axiomas que os fundamentam podem ser inteiramente abstratos. Tais sistemas, contudo, não se prestam a serem aplicados ao modelamento dos sistemas reais. Isto porque, um modelamento teórico do que quer que seja tem que ser capaz de apresentar previsões que, cotejadas com os resultados reais, sejam coincidentes. A operação se dá em três passos. O primeiro é descrever a realidade pelo modelo. O segundo é aplicar as regras de inferência internas ao modelo (que são lógicas) à obtenção do resultado a se prever, dentro da descrição do modelo. O terceiro é traduzir de volta o resultado modelado para a realidade. Se essa tradução coincidir com o que, de fato, ocorre, o modelo é satisfatório e pode-se confiar nele para previsões. Assim se manda uma nave a uma lua de Saturno e ela pousa exatamente onde se pretende. Isso é uma proeza e tanto. Alguns modelamentos são tão extremamente complexos que suas predições são apenas aproximadas. É o que acontece com as previsões meteorológicas. Uma coisa porém é preciso: a lógica e a matemática que se usa para construir as previsões dentro dos modelos tem que aderir ao comportamento da realidade. Senão dá tudo errado. Nesse sentido é que digo que a lógica, para ter serventia, tem que se adequar ao comportamento da natureza. A lógica dicotômica se adequa à construção de programas para computadores digitais porque é assim que, na natureza, se comportam as portas eletrônicas semicondutoras. Computadores analógicos requerem uma lógica difusa para modelar o seu funcionamento. É claro que se pode emular lógicas difusas, modais ou polidimensionais em processadores digitais, mas isto já envolve uma complexidade bem grande. É o que fazem os programas de processamento de imagens e de sons. Há recursos matemáticos para isso, como as transformadas de Fourier e outros. O interessante é que o processador apenas sabe fazer conta de somar com inteiros binários e, com isso, consegue se construir um programa para reconhecimento ótico de caracteres, até mesmo partituras musicais, por exemplo. Fantástico.

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