quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Você poderia dar exemplos de entes sem causa, isto é, que não são contingentes a nenhum outro ente?

Causas não são propriedades dos entes mas sim dos eventos por eles experimentados. Um ser, que é um ente que existe, não tem causa. O que pode ter causa é o evento de sua passagem da inexistência para a existência. Pode, mas não precisa ter. E muitos não têm. Os exemplos mais corriqueiros são o decaimento radioativo, a emissão de fótons por átomos excitados e o surgimento de pares de partícula e antipartícula. Note que, em todos os casos são necessárias condições para que o evento ocorra, mesmo não tendo causa. Um átomo só emite fótons se estiver excitado, mas estando excitado, pode emitir fótons ou não, sem causa nenhuma. Como pode emitir por estimulação, o que acontece nos lasers, em que a emissão tem causa. Numa lâmpada incandescente, não. A aparência da necessidade de causa se prende a eventos macroscópicos. Uma lâmpada, por exemplo, tem seus átomos excitados pelo aquecimento provocado pela corrente elétrica que a percorre. Cada átomo emite fótons ao desexcitar, de modo fortuito, com um curva de probabilidade de emissão em função do tempo de espera. Numa coleção de inúmeros átomos, probabilisticamente, haverá sempre vários emitindo fótons, porque a probabilidade de vários eventos combinados independentes é a soma das probabilidades. Isto leva o valor da probabilidade quase a um, isto é, uma certeza. Então parece que a corrente elétrica é a causa da emissão da luz e, macroscopicamente pode-se dizer que, de fato, o é. Mas é um resultado estatístico.
A existência de um ser se deve ao evento de seu surgimento. Consideremos os prótons e elétrons que existem no Universo. Todos eles surgiram a partir da formação de pares de partícula e antipartícula a partir do campo de matéria do vácuo, que é um evento fortuito, isto é, incausado. Em verdade não surgiram prótons, mas quarks, que se confinaram em prótons. Muitos se aniquilaram com suas antipartículas correspondentes, gerando fótons. Tudo isso é completamente aleatório. Quando a expansão do Universo afastou suficientemente essas partículas e antipartículas de modo que pudessem decair radioativamente antes de se aniquilarem, os híperons e léptons pesados decaíram em prótons e elétrons antes de se aniquilarem e como a meia vida das partículas é menor que das antipartículas, sobrou mais matéria do que antimatéria, o resto ficando como os fótons da radiação de fundo (que existem na razão de um bilhão para cada bárion), isto significando que havia um bilhão de vezes mais partículas de matéria e antimatéria antes do desacoplamento do que há de matéria hoje. Portanto o surgimento da matéria toda do Universo foi um evento sem causa. Da mesma forma se considera o surgimento do campo do vácuo, a partir do qual a matéria e antimatéria surgiram. Quanto aos corpos macroscópicos, desde galáxias, nebulosas, estrelas, planetas e tudo o que há neles, inclusive nós, também surgiram sem causa, por puro acaso. Eventos causados são a grande raridade no Universo. A maioria é fortuita.

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