domingo, 14 de julho de 2013

Professor, percebi no formspring que você cultua bastante a visão anarquista com aversão ao Estado, mas por que o desejo da eliminação do Estado só porque ele não exerce um papel digno? Vamos pensar, veremos que a polícia civil também não efetua um papel decente, mas mesmo assim precisamos dela.‎ Complementando: só porque um determinado corpo(Estado) não exerce um papel qualificado -assim como a polícia civil- não significa que não precisamos dele. Precisamos de algo para ''prender ladrões''.

Não acho que a polícia e outras instituições do estado devam ser abolidas no momento. O que eu acho é que o fato delas existirem é um atestado da falta de civilização da humanidade e que isso deve ser abolido. Mas não agora. A anarquia é uma situação social ideal que deve ser buscada, mas que só vai ser atingida quando as condições para ela estiverem existindo. Isso inclui a prosperidade total de todas as pessoas humanas, uma educação pelo menos em nível médio para todas as pessoas humanas (todas mesmo, do mundo inteiro, sem nenhuma exceção, exceto as crianças enquanto o forem), o desaparecimento de todas as desigualdades sociais, o compartilhamento da propriedade dos bens de produção, a eliminação das fronteiras, dos governos, do dinheiro. Note que isso não vai acontecer por decreto. Será uma extinção espontânea. A polícia deixará de existir logo que se passem uns cem anos sem que haja crime nenhum na humanidade. O dinheiro deixará de existir quando todos produzirem e trabalharem de graça uns pelos outros. A propriedade deixará de existir quanto todos compartilharem uns com os outros tudo o que possuam. E quanto tudo for adquirido comunitariamente. O anarquismo é um fim, e não um meio. Quanto esse estágio altamente civilizado da humanidade for atingido, então essas instituições desnecessárias serão extintas por si mesmas, como a polícia, a política, o governo, as forças armadas, os bancos, as bolsas de valores, o sistema judicial. Isso não significa uma sociedade tribal. Pelo contrário, significa uma sociedade sofisticadíssima em termos culturais, sociais e tecnológicos. Mas, para se chegar lá em poucos milênios, há que se agir agora, por meio da educação anarquista, da mudança dos valores, da cosmovisão, de ações comunitaristas do trabalho voluntário e assim por diante. Um fator que atrapalha muito a obtenção desse ideal são as religiões. Mas não se pode acabar com elas por meio de um confronto direto. O importante é que se tenha uma educação religiosa que apresente as propostas de todas elas à juventude, bem como a proposta ateísta, que sejam discutidas sem partidarismo, para que cada um faça a sua escolha e, principalmente, compreenda a razão das escolhas dos outros. Então se verá que nenhuma é preferível a qualquer outra e que, bem provavelmente, o melhor é não se ter nenhuma.

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