Mestre, é normal não se sentir tão entusiasmado com as físicas básicas no curso? Eu acho meio desanimador o modo que ensinam para engenharia. Aprendemos a calcular com muito foco em aplicações e não na natureza da física. O que mais me encanta são os conceitos e isso quase não é abordado.

Isso é um desastre. Os professores de Física não são estimulados, quando fazem suas licenciaturas, a provocar nos alunos o deslumbramento pelo entendimento do funcionamento da natureza, que é, justamente, o cerne da Física. As aplicações são periféricas e podem ser abordadas, mas com ênfase muito menor. O importante é a descrição, a explicação e a compreensão dos fenômenos que estão por trás das aplicações. Isso é que é Física. Mas o que se ensina e o que se pede nos exames não é Física. É Engenharia. Não que Engenharia seja algo desprezível, ou mesmo, pouco importante. Mas não é esse o objetivo do Ensino Médio Regular. O objetivo é compreender o funcionamento da natureza. Isso é importante para todos, não importa o que vão ser na vida: cientistas, engenheiros, negociantes, médicos, advogados, escritores, artistas, comerciantes, fazendeiros, navegadores, militares, donos de casa ou o que seja. Todos têm que saber como o mundo funciona e isso é ensinado na Física, na Química, na Biologia. Mas nem todo mundo precisa sabre como calcular a resistência equivalente a uma associação, ou como medir o calor específico de um material, ou como calcular que lente por em um óculos. Mas tem que saber o que é a luz, como ela se propaga e coisas assim. Há mais de quarenta anos que venho dando murro em ponta de faca para tentar mudar essa concepção mas sou sempre derrotado pelas mentes tacanhas de outros professores mesmo. Porque engenharia dá azo a se fazer um grande número de exercícios e problemas que não precisam ser discutidos e interpretados para se resolver. São imediatos. Os próprios alunos não querem saber de nada que os faça pensar para tirar conclusões. Uma grandíssima lástima. Assim, o que acontece é que estamos caminhando a passos largos para nos afundar no brejo da ignorância e sermos dominados por aqueles que conhecem, de fato, os fundamentos das coisas e não apenas sabem executar receitas prontas.