sábado, 11 de maio de 2013

Professor, segundo Schopenhauer e alguns filósofos que discorrem sobre Estética como Nietzsche e Kant, o juízo do belo e gosto é uma construção devido a vários fatores. Na sua opinião, quais fatores levaram à criação do "créu", a pobreza poética?

Sem dúvida. Para mim, os fatores que levam a essa pobreza estética são os mesmos que levam à disseminação da ignorância, à rejeição de toda dificuldade para prosseguir a educação em níveis mais profundos. Em suma: a preguiça mental (e física também). Vejo, nas escolas, que há uma fobia por tudo que seja complicado, difícil, trabalhoso, demorado, cansativo. Essa preguiça de enfrentar as dificuldades e superá-las, no estudo, cada vez mais produz pessoas ignorantes e mal preparadas. Para não reprovar a grande maioria e provocar um represamento colossal, inclusive por pressão do governo, as escolas diminuem o nível de exigência e deixam passar alunos sem conhecimento. Isso vai piorando ano após ano, o que me deixa preocupadíssimo com o futuro da nação, depois que a atual geração, que ainda entende de alguma coisa, morrer. Essa fobia também se aplica às artes, especialmente à música, fazendo com que qualquer música que tenha uma melodia e uma letra mais elaboradas sejam rejeitadas por serem de assimilação mais trabalhosa. Então não se frui a beleza das construções musicais e poéticas requintadas, por mera preguiça. Por falta de se ter disposição para o trabalho de interpretação e assimilação do significado dos conteúdos musicais e literários. Isso é lastimável. Todo mundo só quer facilidade. Com isso, também, não se consegue mobilizar ninguém para lutar pela mudança do mundo para melhor, porque dá trabalho e o retorno não é imediato. Daí as classes dominantes, cada vez mais, dominarem a massa do povo. Por isso mesmo é que elas não querem saber de povo muito bem educado. Porque quem é bem educado é questionador e capaz de argumentar para combater e defender seus direitos. Erra quem considera que esse tipo de música é uma afirmação da classe operária. Pelo contrário, é um atestado de que ela não se afirma em nada. E não se vá dizer que essa seja uma visão elitista, como sendo algo ruim. O ruim é a elite pretender excluir o resto do povo de suas regalias. Mas levar o povo todo para compartilhar das benesses da elite, eliminando as diferenças de classe por cima, é muito bom. O ideal é que todo mundo fosse bem rico e muito bem educado, de preferência com nível superior. Todo mundo mesmo. E que todo mundo pudesse apreciar ópera e música clássica, com conhecimento. Pudesse ler Dostoiewsky e Shakespeare e gostar. E ler Schopenhauer, Nietzsche e Kant. Mas também Einstein, Freud, Marx e Darwin. E entender. Eu queria isso para todo mundo, inclusive lavradores, pedreiros, lixeiros, pescadores, empregadas domésticas...

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