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quinta-feira, 23 de novembro de 2017
Eu vou concordando com muita coisa que você diz, até que chega nesta parte de compartilhar maridos e mulheres. Ah, mas você adora isto!! Daí, você não consegue me convencer! Não sei de onde você tira esta idéia que, se adotada, faria aumentar as DST. Para mim é uma idéia totalmente descabida!
Isso é um aspecto muito importante da anarquia. As pessoas não possuem propriedade nenhuma. Nem casas, nem carros, nem móveis, nem roupas, nem livros. Podem ter coisas estritamente pessoais, como escovas de dentes, óculos, calcinhas e cuecas, por exemplo. Tudo é de todo mundo. Tudo é comunitário. Todos desfrutam de tudo. Ora, o que é mais importante de tudo são as próprias pessoas. Então nenhuma pessoa pode ser exclusivamente de ninguém. Todas são de todos. Ou seja, não há necessidade de nenhuma exclusividade e nem de nenhuma perenidade relacional, tanto amorosa quanto sexual. As pessoas têm que poder se relacionar amorosa e sexualmente com quem quiserem e com quantas pessoas quiserem, pelo tempo que quiserem. Inclusive podem se relacionar monogamicamente pela vida toda. O que não pode é serem impedidas de não serem monogâmicas, pelo menos oficialmente. Se sentirem amor por mais de uma outra, que realizem abertamente esse amor, com conhecimento e consentimento dos envolvidos, ao invés de manterem casos extraconjugais escondidos. A liberdade (mas não obrigatoriedade) de não se ter relacionamento exclusivista é essencial para uma sociedade realmente libertária. Note que, nisso, também se faz o desacoplamento entre as modalidades de relacionamento, isto é, os aspectos romântico, sexual e conjugal, por exemplo, são independentes, podendo haver só um sem os outros, ou só dois sem o terceiro, na combinação que se quiser. E isso pode ser algo dinâmico, que evolui com o tempo, envolvendo diferentes pessoas nessa passagem. Isso acaba com a noção conservadora de família e inaugura uma noção de família muito mais rica e satisfatória. Uma família que consiste num conjunto de pessoas com envolvimentos de várias ordens, emocional, afetivo, sexual, econômico e outros e que unem seus esforços para levar a vida adiante o mais satisfatória e prazerosamente possível, arcando todos com o cuidado das crianças, que passam a ter vários pais e várias mães. Isso é maravilhoso, sem excluir a possibilidade da exclusividade, se for o que as pessoas queiram. E toda vez que alguém se desligar do grupo familiar, não se desliga das relações de amizade. Esse é um mundo fraterno em que todos se amam mesmo, como preconizou o Jesus de Nazaré em uma de suas mensagens mais valiosas: "amai-vos uns aos outros", sem nenhum "exceto", sem nenhuma limitação de tipo de amor ou de quantidade de amados e amantes. Finalmente, essa liberdade relacional engloba, também, a liberdade de relações efêmeras meramente recreativas, por parte de qualquer pessoa, sem nenhum compromisso de dedicação, compartilhamento de interesses e projetos de vida, cuidados recíprocos, fruição e doação de felicidade e os demais compromissos que selam uma união gâmica entre seres humanos, com exceção da exclusividade e da perenidade. Esses são votos que não podem ser feitos nos contratos nupciais. Aliás, contratos esses que jamais deveriam existir. Em verdade, numa sociedade anárquica, não existem contratos.
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